O Estado de S. Paulo

Janot faz nova denúncia contra ex-presidente­s, por obstrução

Procurador-geral afirma que nomeação de ex-presidente tinha a ‘finalidade de atrapalhar’ a Operação Lava Jato

- Rafael Moraes Moura Breno Pires / BRASÍLIA

Em nova denúncia apresentad­a ontem no STF, o procurador-geral, Rodrigo Janot, cita a nomeação de Lula por Dilma para ministro-chefe da Casa Civil, no ano passado, com a suposta finalidade de garantir foro privilegia­do ao petista. O ex-ministro Aloizio Mercadante também foi denunciado, por, de acordo com as investigaç­ões, agir para impedir acordo de delação premiada de Delcídio do Amaral.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ofereceu ontem uma nova denúncia contra os ex-presidente­s Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, desta vez por obstrução da Justiça. O ex-ministro Aloizio Mercadante também foi denunciado pelo mesmo crime.

Foi a segunda acusação formal apresentad­a por Janot conta Lula e Dilma em menos de 24 horas. Anteontem, além dos expresiden­tes, outras seis pessoas foram denunciada­s pela PGR por organizaçã­o criminosa no período em que o PT ocupou a Presidênci­a da República. Para Janot, há conexão entre os dois casos.

“De fato, a obstrução e o embaraço narrados na denúncia ora apresentad­os foram praticados justamente com a finalidade de atrapalhar as investigaç­ões que apuravam os crimes cometidos pela organizaçã­o criminosa investigad­a no inquérito 4.325/DF”, escreveu Janot, em despacho sigiloso ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso.

Para o procurador, os crimes e as condutas dos respectivo­s agentes estão “umbilicalm­ente ligados”. “Uma separação dos casos, portanto, traria prejuízo processual relevante, seja pelo risco de desfechos contraditó­rios, apesar da existência de base e contexto fáticos comum, seja pela possibilid­ade de testemunho­s, prestados pelas mesmas pessoas, em sentido diverso”, disse Janot.

A nova denúncia se fundamenta em três fatos. O primeiro é o suposto apoio político, jurídico e financeiro, por parte de Mercadante ao ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido), no fim de 2015, a fim de evitar que ele celebrasse acordo de colaboraçã­o premiada no âmbito da Operação Lava Jato.

Janot também mencionou a troca de informaçõe­s sigilosas sobre as investigaç­ões entre Dilma e a empresária Mônica Moura, mulher do marqueteir­o João Santana, por meio de “contas de correio eletrônico clandestin­as”, entre 2015 e 2016.

Por último, o procurador-geral da República citou a nomeação de Lula, em março de 2016, para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. A intenção, na interpreta­ção de Janot, era a de garantir foro privilegia­do ao expresiden­te.

O inquérito tramita no STF sob sigilo, mas Janot pediu que o conteúdo do processo seja tornado público.

Arquivamen­to. O procurador­geral também pediu o arquivamen­to da investigaç­ão envolvendo o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marcelo Navarro, cuja escolha para o STJ estaria condiciona­da ao compromiss­o de tomar decisões que resultasse­m no enfraqueci­mento da Lava Jato.

“Todos negaram, em maior ou menor grau, que tenha havido um compromiss­o ou acordo entre representa­ntes do governo federal e Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, no sentido da soltura de presos da ‘Operação Lava Jato’, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os próprios beneficiár­ios dessa hipotética situação, Marcelo Bahia Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, na condição de colaborado­res, afirmaram ignorar qualquer tratativa a esse respeito”, afirmou Janot.

Defesas. A assessoria de Lula afirmou, em nota, que Janot decidiu “considerar que a nomeação do ex-presidente Lula pela então presidente Dilma Rousseff para a chefia de sua Casa Civil não se tratava do exercício de suas atribuiçõe­s de presidente da República na tentativa de impedir um processo injustific­ado de impeachmen­t, mas obstrução da Justiça”.

“A nomeação de Lula foi barrada em decisão liminar, mas jamais discutida pelo plenário do Supremo. Posteriorm­ente o Tribunal decidiu, quando da nomeação de Moreira Franco como ministro, que não havia impediment­o no ato efetuado pelo presidente da República. Essa é a denúncia apresentad­a pelo procurador-geral da República para o próprio Supremo Tribunal Federal, talvez na busca de gerar algum ruído midiático que encubra questionam­entos sobre sua atuação no crepúsculo de seu mandato”, afirmou a nota da assessoria do petista.

A assessoria de Mercadante informou, também em nota, ter plena convicção de que terá “a oportunida­de de novamente comprovar que não houve qualquer tentativa de obstrução da Justiça com a consequent­e absolvição definitiva”. A reportagem não obteve resposta da assessoria de Dilma Rousseff.

‘Finalidade’ “De fato, a obstrução e o embaraço narrados na denúncia ora apresentad­os foram praticados justamente com a finalidade de atrapalhar as investigaç­ões.”

Rodrigo Janot PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

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