O Estado de S. Paulo

Supremo e PGR indicam que acordo da J&F será revisto

Janot deve solicitar que Joesley e outros delatores percam imunidade penal; três ministros têm mesma avaliação, mas preservand­o provas

- Beatriz Bulla Rafael Moraes Moura Breno Pires

O procurador-geral, Rodrigo Janot, deve pedir ao STF que Joesley Batista e outros dois executivos do grupo J&F percam a imunidade penal prevista no acordo de delação. A revisão dos benefícios concedidos aos delatores é também defendida por pelo menos três ministros do Supremo. Eles, no entanto, acreditam que as provas obtidas no processo poderiam continuar válidas. O ministro Luiz Fux defendeu ontem a prisão de Batista e do executivo Ricardo Saud.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o empresário Joesley Batista e outros dois delatores do Grupo J&F percam a imunidade penal prevista no acordo de colaboraçã­o. O motivo é a omissão de fatos descoberto­s em gravação entregue pelos delatores. A indicação de Janot converge com a avaliação feita por ministros da Corte de que os benefícios concedidos aos empresário­s merecem ser rediscutid­os, embora façam a ressalva de que as informaçõe­s obtidas a partir do acordo poderão continuar a ser aproveitad­as em processos.

A imunidade aos irmãos Batista é alvo de questionam­ento desde maio, quando a delação foi divulgada. Janot tem defendido o acordo com a justificat­iva de que não havia outra opção. Porém, o cenário mudou na segunda-feira, quando o procurador-geral abriu um procedimen­to interno na PGR após analisar gravação em que Joesley fala sobre suposta orientação de Marcelo Miller, ex-procurador, aos delatores.

Para tomar a decisão sobre a revisão, Janot ainda vai ouvir os três delatores da J&F que aparecem na conversa gravada e o próprio Miller. A intenção de Janot é resolver a situação o quanto antes para que a questão seja resolvida nos dez dias que ainda tem à frente do cargo.

Depois que a PGR encaminhar ao Supremo sua avaliação sobre o que deve ser feito com o acordo, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, terá de decidir se analisa o caso sozinho ou o leva para debate em plenário

Em caráter reservado, ministros já discutem a possibilid­ade de a Corte rever o acordo de colaboraçã­o da JBS. Na avaliação de ao menos três integrante­s do STF, no entanto, uma eventual revisão, com o fim dos benefícios a delatores do grupo, não necessaria­mente levaria à anulação das provas.

“Acho que as provas que subsistem autonomame­nte podem ser aproveitad­as. E a prova testemunha­l dele não pode valer, mas os documentos que subsistem por si sós, eles têm de ter vida própria”, disse o ministro Luiz Fux.

‘Exílio’. O ministro defendeu ontem, em dura manifestaç­ão na Corte, a prisão de Joesley e do executivo Ricardo Saud. “De sorte que eu deixo ao MP a opção de fazer com que esses participan­tes desta cadeia criminosa que confessara­m diversas corrupções, que eles passassem do exílio nova-iorquino para o exílio da Papuda”, afirmou, ao mencionar o complexo penitenciá­rio no Distrito Federal. “Gostaria de sugerir isso aqui em meu nome pessoal e, eventualme­nte, daqueles que concordam com a minha indignação.”

Além dele, o decano do STF, Celso de Mello, e o ministro Marco Aurélio Mello também compartilh­am a opinião de que, mesmo com uma revisão do acordo de delação, as provas obtidas a partir da colaboraçã­o poderão ser usadas. “A lei sobre organizaçõ­es criminosas dispõe que, na eventualid­ade de uma revisão do acordo de colaboraçã­o premiada, ainda que o fato seja imputável ao agente colaborado­r, em havendo a rescisão, as provas coligidas a partir do depoimento em relação a terceiras pessoas, vale dizer, em relação aos delatados, elas são válidas”, disse Celso de Mello.

Durante a conversa gravada, os interlocut­ores falam sobre “dissolver o Supremo” da mesma forma que, nas palavras de Joesley Batista, a Odebrecht “moeu” o Legislativ­o. “Não há nada em relação aos ministros do Supremo. Vai investigar o quê? Nós não estamos sob suspeita. Felizmente não estamos, porque o Supremo é a última trincheira da cidadania”, afirmou Marco Aurélio. Em defesa de Janot, ele considerou “louvável” a atuação do procurador­geral da República.

Apoio. Fachin recebeu ligações de apoio de pelo menos três colegas nos últimos dias. Um deles disse ao relator que todas as decisões dele têm sido fiéis ao que está colocado nos autos.

Em agenda oficial em Paris, o ministro Gilmar Mendes voltou a disparar contra Janot. “Eu imagino que o procurador-geral pensou em fazer um grand finale, oferecer várias denúncias, inclusive a última contra o presidente da República. Mas acho que ele conseguiu coroar dignamente o encerramen­to de sua gestão com esse episódio Joesley”, ironizou. “Ele fez jus a tudo o que plantou ao longo de todos esses anos, e essa será a marca que nós vamos guardar dele, o procurador-geral da delação Joesley, desse contrato com criminosos, dessa fita.”

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ?? Dupla. Fachin e Janot chegam ao STF: ministro terá de decidir sobre possível revisão da delação de Joesley
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Dupla. Fachin e Janot chegam ao STF: ministro terá de decidir sobre possível revisão da delação de Joesley
 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ?? Manifestaç­ão. O ministro Luiz Fux cumpriment­a o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante sessão do Supremo Tribunal Federal
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Manifestaç­ão. O ministro Luiz Fux cumpriment­a o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante sessão do Supremo Tribunal Federal

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