Na Colômbia, papa deve tratar da crise na Venezuela
Francisco chega a Bogotá para visita de cinco dias que marca uma nova fase de ativismo diplomático do Vaticano na América Latina
Durante voo para Bogotá, Francisco desejou que se “construa o diálogo” na Venezuela e que o país “encontre uma boa estabilidade”, informa a enviada especial à Colômbia, Fernanda Simas. O papa se encontrará com bispos venezuelanos.
O papa Francisco chegou ontem à Colômbia, marcando uma nova etapa na atuação da Igreja Católica no país. Durante o voo, ele deu sinais de que tratará diretamente da crise venezuelana, que tem levado uma imigração massiva para o território colombiano.
No trajeto para Bogotá, o papa desejou que se “construa o diálogo” na Venezuela e o país “encontre uma boa estabilidade”. Os venezuelanos enfrentam problemas econômicos, uma severa escassez e meses de violentos protestos contra o governo e quase 300 mortos relacionados direta ou indiretamente às manifestações.
Como parte da tradição do Vaticano de enviar telegramas aos países que o papa sobrevoa em suas viagens, Francisco expressou cordiais saudações ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e a todo o povo venezuelano. Ele assegurou que ora para que “todos nesta nação sejam promotores de caminhos de solidariedade, justiça e concórdia”. Durante o voo, também se confirmou que o papa se encontrará, após a missa no Parque Simón Bolívar, de Bogotá, com cinco bispos venezuelanos presentes na cerimônia.
Terceiro pontífice a visitar a Colômbia, Francisco encontrará um cenário de paz entre as forças de segurança e a principal guerrilha colombiana, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Bogotá e a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), que negociam um acordo de paz, também firmaram uma trégua de 90 dias antes da visita.
Francisco, o primeiro papa latino-americano, além de ter incentivado o acordo de paz na Colômbia, também ajudou a promover a aproximação entre Cuba e os EUA. “Com certeza, Francisco entende mais a América Latina, porque experimentou na pele os males que afligem o continente desde sua colonização. Ele não tem, como os papas que o precederam, uma visão eurocêntrica”, disse Anna Carletti, professora da Universidade dos Pampas e autora do livro Diplomacia e Religião.
Para ela, o papa tem uma visão mais próxima da de João Paulo II, que usou a diplomacia para promover a paz durante o período em que comandou a Santa Sé, entre 1978 e 2005, e deverá encontrar maneiras para abordar durante sua visita a situação na Venezuela. “O papa não vem para defender um ou outro lado, ele atua para defender os mais necessitados, os que estão sofrendo por crises econômicas e políticas provocadas por um sistema capitalista injusto”, disse Carletti.
Em abril, o papa revelou que ex-líderes de quatro países – Espanha, República Dominicana, Panamá e Colômbia – haviam pedido a mediação do Vaticano para um diálogo entre a oposição e o governo venezuelano. A Santa Sé fixou condições para “patrocinar” o diálogo – um calendário eleitoral, a libertação dos opositores presos, a autorização de assistência de saúde internacional e a restituição das funções do Parlamento –, mas elas não foram aceitas.