O Estado de S. Paulo

Petistas tentaram atrapalhar a Lava Jato

Palocci afirma a Moro que discutiu ‘obstáculos’ para barrar operação; petista diz que alertou Lula sobre ‘ilícito monstruoso’ com Odebrecht

- Fausto Macedo Ricardo Brandt Julia Affonso Luiz Vassallo

• No depoimento a Sérgio Moro, Antonio Palocci afirmou que ele e o ex-presidente Lula tramaram para tentar atrapalhar as investigaç­ões sobre o esquema na Petrobrás. As declaraçõe­s dão pistas das informaçõe­s que o ex-ministro, preso há um ano, tem a fornecer caso feche uma delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

‘Obstáculos’

“Eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar, vamos dizer, criar obstáculos.” Antonio Palocci

EX-MINISTRO DE LULA

O ex-ministro Antonio Palocci afirmou ontem, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tramaram para tentar atrapalhar as investigaç­ões da Operação Lava Jato. O petista foi ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff.

As declaraçõe­s de Palocci foram feitas no fim do interrogat­ório ao titular da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba e dão pistas das informaçõe­s que o petista tem a fornecer caso feche uma delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). O ex-ministro está preso desde setembro de 2016 e negocia um acordo de colaboraçã­o com a equipe da força-tarefa.

Palocci admitiu ao juiz tentativas de obstruir as investigaç­ões sobre o esquema de corrupção e desvios na Petrobrás. “Tentei ajudar que não andassem as investigaç­ões da Operação Lava Jato”, afirmou o ex-ministro dos governos petistas.

Moro quis saber então se essa manobra ocorreu “juntamente com o ex-presidente”. “Sim”, disse Palocci. “Em algumas oportunida­des, eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar, vamos dizer, criar obstáculos à evolução da Lava Jato. Posso citar casos se o senhor desejar”, sugeriu o petista.

O juiz disse que não era necessário nenhum exemplo, pois o tema “não era objeto específico” da ação penal para a qual era interrogad­o. No processo em que foi ouvido ontem, o ex-ministro é réu com Lula por recebiment­o de supostas propinas da Odebrecht. A ação em julgamento trata de suspeita de pagamentos indevidos em oito contratos da Petrobrás com a empreiteir­a, a compra de um terreno para o Instituto Lula, em São Paulo, e o aluguel de uma cobertura vizinha ao apartament­o de Lula, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

‘Ilícito monstruoso’. Embora ainda não tenha fechado acordo com o MPF, Palocci relatou no interrogat­ório informaçõe­s que descrevem com mais detalhes o esquema de corrupção e desvios na estatal. Palocci afirmou, por exemplo, que havia alertado o ex-presidente Lula sobre a relação “monstruosa” com a Odebrecht.

De acordo com Palocci, no fim do governo Lula, o ex-presidente pediu que ele atendesse a uma ligação da ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro. O ex-ministro disse que dona Marisa explicou que estava pensando em uma sede para o Instituto Lula para abrigar material de presidente. “Ela relatou que o presidente estava com pouco tempo e ela queria agilizar a busca de um local”, disse o ex-ministro.

Palocci disse que Marisa teria colocado o pecuarista José Carlos Bumlai e o advogado Roberto Teixeira, amigos da família, “cuidando do assunto”.

O ex-ministro relatou que avisou Lula sobre os riscos da negociação. “Falei para ele: ‘Olha, estou preocupado, eu não gostaria de fazer desse jeito. O senhor está fazendo um instituto para receber doações e fazer suas atividades, não sei por que procurar agora um terreno. Por que não esperar? Não tem problema nenhum receber uma doação da Odebrecht, mas que seja formal ou pelo menos revestida de formalidad­e”, disse Palocci a Moro.

“Eu disse para ele (Lula), ‘nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação vamos criar uma fratura exposta desnecessá­ria’”, relatou o ex-ministro do petista.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS–5/7/2017 Petistas. Eleição de Dilma, como sucessora de Lula, preocupou a Odebrecht, segundo depoimento de Palocci a Moro

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