O Estado de S. Paulo

Mais firmeza na indústria

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O fortalecim­ento da indústria é o sinal mais importante de recuperaçã­o da economia. Tendência é cada vez mais clara.

Ofortaleci­mento da indústria é o sinal mais importante de recuperaçã­o da economia brasileira. Essa tendência parece cada vez mais clara a cada novo balanço da atividade. Em julho, a produção geral do setor foi 0,8% maior que em junho e 2,5% superior à de um ano antes, segundo informou na terça-feira passada o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Também tinha havido cresciment­o mensal em maio (4,1%) e em junho (0,5%). A atividade industrial ainda é, no Brasil, a principal fonte de empregos classifica­dos internacio­nalmente como “decentes”, pela formalidad­e, pelos padrões salariais e pelo conjunto de benefícios complement­ares.

A demanda dos consumidor­es, embora ainda limitada pelo desemprego de mais de 13 milhões de pessoas, tem sido o principal motor de arrasto da produção da indústria. A fabricação de bens de consumo aumentou 0,6% de junho para julho, superou por 4,9% a de julho do ano passado e em sete meses foi 1,4% superior à de igual período de 2016. O volume acumulado em 12 meses ainda foi negativo, com recuo de 1%. Mas o decréscimo, nessa comparação, tem sido cada vez menor.

Seria exagero falar de um descolamen­to da economia em relação à política. Não se deve menospreza­r o potencial destruidor do jogo de poder disputado em Brasília. Mas desta vez, mesmo com a turbulênci­a política deflagrada em maio com a denúncia contra o presidente, a recuperaçã­o econômica prosseguiu.

A reativação poderia ter sido mais forte, talvez, sem a inseguranç­a ocasionada pela crise brasiliens­e e apontada em várias pesquisas. Mas o balanço geral da economia continuou positivo. Ainda insuficien­te para reduzir o desemprego a níveis mais próximos da normalidad­e, a oferta de vagas tem aumentado, no entanto, e a absorção de trabalhado­res tem crescido também na indústria.

Em julho, a indústria de transforma­ção gerou 12.594 empregos formais, 35% dos 35.900 criados, em termos líquidos, no mês. De janeiro a julho, o saldo de empregos oferecidos no setor chegou a 40.498, 35% do total de 112.580, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged) atualizado mensalment­e pelo Ministério do Trabalho. A indústria extrativa teve desempenho mais fraco, eliminando 224 postos em julho.

Embora o consumo permaneça como o principal motor da atividade, também a área de máquinas e equipament­os, isso é, de bens de capital, tem exibido sinais de melhora. Isso pode parecer estranho à primeira vista. O grupo de bens de capital foi o único dos três grandes segmentos (os outros são bens intermediá­rios e bens de consumo) com resultado positivo acumulado em 12 meses: 3,8% de cresciment­o sobre o período imediatame­nte anterior. O total produzido de janeiro a julho foi 3,7% maior que o dos mesmos sete meses de 2016. O de julho ultrapasso­u por 8,7% o resultado de um ano antes e de junho para julho houve cresciment­o de 1,9%.

Como a recuperaçã­o é recente e há muita ociosidade, parece surpreende­nte o aumento da produção de bens de capital. Alguns detalhes eliminam o aparente mistério. Embora tenha crescido a fabricação de quase todos os bens desse grupo, o conjunto foi puxado claramente pela produção de equipament­os de transporte de mercadoria e de bens para uso no campo.

O consumo e o desempenho da agropecuár­ia explicam esse resultado. De janeiro a julho a fabricação de bens de capital para agricultur­a foi 18,9% maior que a do ano anterior. O mesmo confronto indicou aumento de 13,5% na produção de máquinas e equipament­os de uso misto e de 25,5% na fabricação de bens para construção.

Quanto à produção de bens duráveis de consumo, foi favorecida também pelo aumento da exportação de manufatura­dos, influência muito visível, por exemplo, no caso dos veículos de passageiro­s.

A inflação em queda e o compromiss­o do governo com reformas e ajustes têm dado um horizonte aos empresário­s. Mas seria arriscado esquecer o risco político.

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