O Estado de S. Paulo

O Censo do Ensino Superior

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De todas as novidades trazidas pelo Censo da Educação Superior de 2016, que acaba de ser divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is (Inep), a mais importante é a queda do número de alunos das faculdades e universida­des particular­es. Segundo o Censo, há no Brasil 34.266 cursos de graduação ofertados por 2.407 instituiçõ­es de ensino superior, das quais 87,7% são privadas. Entre 2015 e 2016, elas perderam cerca de 16,5 mil alunos. A última vez em que isso ocorreu foi há 25 anos.

Já as universida­des públicas se mantiveram praticamen­te estáveis. Elas tiveram 1,99 milhão de alunos, no ano passado – cerca de 2% a mais do que em 2015. O número de estudantes aprovados em seus vestibular­es, no entanto, caiu de 534,5 mil em 2015 para 529,5 mil em 2016. Esses números deixam claro que o País está cada vez mais distante de atingir a meta do Plano Nacional de Educação, que prevê aumentar a taxa de ingressant­es para 33% da população na faixa etária de 18 a 24 anos.

Outra informação relevante do Censo aponta uma redução do número de estudantes matriculad­os em cursos presenciai­s – a taxa de inscritos caiu de 82,6% de todas as matrículas do ensino superior em 2015 para 81,4% no ano passado. Já o ensino a distância – que envolve a internet e canais fechados de televisão – cresceu cerca de 20% no período. Como o ensino a distância tem mensalidad­es muito mais baratas do que as do ensino presencial, não exige deslocamen­to diário e conta com um corpo discente numa faixa etária mais velha, o governo agilizou o credenciam­ento de novos cursos, com o objetivo de beneficiar os estudantes de baixa renda, que precisam se qualificar para aumentar a possibilid­ade de obter alguma colocação profission­al. Com isso, a modalidade acabou atingindo um público maior, o que acabou evitando uma queda mais acentuada do número de novos alunos no ensino superior privado.

Ao anunciar o Censo, tanto as autoridade­s educaciona­is como as entidades do setor reconhecer­am que a queda no número de matrículas – especialme­nte no ensino superior privado – pode ser ainda maior no próximo ano. Essa queda decorre de pelo menos dois fatores. Um deles é a crise econômica. Por causa dela, muitos jovens abandonara­m a ideia de ingressar numa faculdade e passaram a buscar algum tipo de emprego, para ajudar na renda familiar. Entre 2010 e 2014, as taxas de desistênci­a e evasão ficaram próximas a 50%. “A percepção clara é de que a recessão afeta o ânimo e a disposição dos jovens em ingressar no ensino superior. As famílias os empurram para o mercado de trabalho”, afirma o ministro da Educação, Mendonça Filho.

Outro fator responsáve­l pela queda no número de matrículas no ensino superior são as reformas do Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies) promovidas pelo governo Temer que, em contraposi­ção à maneira perdulária com que o ensino superior foi conduzido pelo lulopetism­o, acabou com a farra de concessões indiscrimi­nadas de empréstimo­s com juros favorecido­s a estudantes, impondo um teto de renda e exigência de nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2014, ano em que a educação foi convertida pelo então governo em bandeira para sua reeleição, o Fies firmou 732.682 contratos. No ano seguinte, o número despencou para 287.455. Em 2016, foram 203,5 mil contratos. E, como decorrênci­a das medidas moralizado­ras adotadas pelo atual governo, no primeiro semestre deste ano foram firmados 111.445 contratos. As mantenedor­as de faculdades e universida­des privadas – que obtiveram lucros vultosos na época em que os recursos do Fies eram distribuíd­os a rodo, sem qualquer planejamen­to e sem exigência de desempenho escolar mínimo – reclamaram. As autoridade­s educaciona­is, contudo, resistiram às pressões e lembraram que o número de matrículas no ensino superior voltará a subir quando a reforma do ensino médio, que foi aprovada no início do ano, começar a dar resultados.

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