‘Fatos mostraram que eu tinha razão’, afirma Temer
Presidente se refere a gravações que sugerem conduta ilícita de Marcelo Miller, ex-auxiliar de Janot
O presidente Michel Temer afirmou ontem que “tinha razão” quando disse que a delação da JBS não se sustentava. Ao chegar da China, Temer se reuniu com ministros e aliados e observou que o procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, ficou “enfraquecido” após a revelação de que o empresário Joesley Batista, da JBS, e executivos da empresa omitiram informações sobre crimes nos acordos com o Ministério Público Federal.
“Ele disse para nós: ‘Afinal, os fatos acabaram mostrando que eu tinha razão’”, contou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. O presidente se referia à descoberta de gravações que, nas palavras do próprio Janot, sugerem “conduta, em tese, criminosa” do então procurador Marcelo Miller na delação da JBS e podem acabar anulando a colaboração da empresa.
Miller era braço direito de Janot. Pediu exoneração em fevereiro para trabalhar como sócio no escritório Trench, Rossi e Watanabe, contratado para fazer o acordo de leniência da J&F, mas só deixou efetivamente o cargo em abril.
Em junho, ao ser denunciado pelo crime de corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República, Temer levantou suspeitas sobre a ligação entre Miller e Janot. À época, disse que o ex-procurador “ganhou milhões” em poucos meses. “Garantiu ao seu novo patrão (Joesley) um acordo benevolente, uma delação que o tira das garras de Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista”, afirmou Temer, em pronunciamento
no dia 27 de junho.
Em nota divulgada ontem, Miller disse que não cometeu qualquer crime ou ato de improbidade administrativa e repudiou o que chamou de “conteúdo fantasioso” das menções a seu nome. Afirmou nunca ter recebido “dinheiro ou vantagem pessoal da J&F ou de qualquer outra empresa”. Assegurou, ainda, que não mantinha qualquer comunicação com Janot desde
outubro de 2016, com exceção do dia 23 de fevereiro, quando pediu exoneração do cargo.
Nova denúncia. A estratégia do Palácio do Planalto, agora, consiste em reforçar a mensagem de que o presidente é “vítima” de “armação”. Temer também orientou aliados a insistirem na ofensiva contra Joesley. O presidente pede a anulação do depoimento do empresário e dos executivos da JBS.
Na avaliação do núcleo político do governo, a provável nova denúncia contra Temer – que deve ser apresentada por Janot, por obstrução da Justiça e organização criminosa – perdeu sentido diante da “fragilidade” do procurador-geral. Janot deixa o cargo no próximo dia 17.
A equipe de Temer está convencida de que, caso uma nova acusação chegue à Câmara, será derrubada com mais votos do que foi a primeira, por corrupção passiva, em 2 de agosto.
Na tentativa de virar a página da crise, ministros e aliados de Temer também investem no discurso de que a economia já dá sinais de melhora.
Diante desse cenário de otimismo, a ordem no Planalto é manter silêncio sobre a ação da Polícia Federal que encontrou malas de dinheiro, com R$ 51 milhões, em apartamento usado pelo ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, em Salvador (mais informações na pág. A9).
Mesmo com todos os percalços, o Planalto avalia que a crise está arrefecendo e já traçou um novo cronograma para a reforma da Previdência. “Vamos aprovar as mudanças ainda neste ano”, disse Padilha. “O governo é forte.”