O Estado de S. Paulo

Áudios achados pela PF são diferentes

- / B.B

Os áudios entregues pela defesa do grupo J&F à Procurador­ia-Geral da República, que devem gerar a revisão do acordo de delação, são diferentes do material que foi encontrado pela Polícia Federal em junho. No primeiro semestre, ao realizarem a perícia autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos equipament­os usados por Joesley Batista para gravar o presidente Michel Temer e outros políticos, os delegados encontrara­m conversas que haviam sido apagadas.

Os arquivos recuperado­s pela polícia foram encaminhad­os ao STF. No total, a polícia encontrou 7 arquivos, dos quais apenas 4 eram áudios. Os outros 3 foram considerad­os “arquivos de extensão”, que foram encontrado­s sem nenhuma informação ou conversa.

Uma das gravações continha um diálogo entre Joesley e os advogados Francisco de Assis e Fernanda Tórtima, segundo apurou o Estado. Os dois davam orientaçõe­s jurídicas para Joesley. Ao identifica­r a conversa, o ministro Edson Fachin, relator do caso JBS no Supremo, decretou o sigilo em todo o material. Como todos os 4 áudios estão na mesma mídia física – um Blu-Ray –, o disco inteiro foi lacrado a mando de Fachin.

O ministro considerou que o sigilo de comunicaçã­o entre advogado e cliente é um dos pilares do direito de ampla defesa e contraditó­rio. Segundo Fachin, em decisão sobre o assunto do dia 30, o conteúdo do diálogo “ostenta caráter de indevassab­ilidade”.

Após a decretação do sigilo, Fachin aguarda manifestaç­ão de todas as partes envolvidas no caso – e do Ministério Público – para avaliar se é o caso de fazer o descarte da conversa, o que tem nome técnico de “apagamento”. Se as partes, por exemplo, abrirem mão do direito que possuem de que o material não seja analisado, Fachin pode manter os arquivos.

Se for avaliado, no entanto, que é uma situação para “apagamento” do arquivo, as etapas do procedimen­to são previstas em lei. Para deletar o áudio, é realizada uma audiência com o juiz, MP e partes envolvidas e há o descarte do material que não interessar e nem puder ser aproveitad­o em investigaç­ões.

Ainda que a conversa protegida seja apagada, as outras três, após o procedimen­to, devem ser tornadas públicas.

Já os áudios entregues pela J&F para a PGR que vieram à tona nesta semana, chegaram no gabinete de Fachin na terçafeira. No mesmo dia, o ministro retirou o sigilo do material.

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