O Estado de S. Paulo

MP apura contratos brasileiro­s em obras chavistas

Informaçõe­s enviadas por chavista dissidente à procurador­ia motivou mais investigaç­ões sobre contratos na Venezuela

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA / COM

Com base em informaçõe­s dadas pela ex-procurador­a-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz, o Ministério Público Federal apura em estágio inicial contratos de empresas brasileira­s na Venezuela e o destino dado a empréstimo­s de bancos públicos brasileiro­s a obras realizadas sob os governos dos presidente­s Hugo Chávez e de Nicolás Maduro.

Pelo menos 11 obras a cargo da Odebrecht estão paralisada­s no país, segundo a procurador­ia. Uma delas é a terceira ponte sobre o Rio Orinoco, que, de acordo com o Ministério Público venezuelan­o, estaria pela metade. Em outras, como a segunda linha de metrô de Los Teques, cidade-satélite de Caracas, a construção está em 38%. Ainda existem obras não concluídas da Odebrecht com a PDVSA, com o Ministério de Infraestru­tura e com o Instituto Nacional de Desenvolvi­mento Rural, entre outros.

O interesse do Ministério Público brasileiro sobre obras financiada­s com recursos públicos na Venezuela aumentou depois que Ortega estimou que os contratos da Odebrecht com a Venezuela chegariam a US$ 30 bilhões por 11 obras ainda inacabadas.

Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) indicou que, entre 2006 e 2014, o BNDES liberou R$ 11 bilhões para empresas brasileira­s com obras na Venezuela e identifico­u irregulari­dades em casos como o metrô de Caracas, que consumiu US$ 747 milhões do BNDES (cerca de R$ 2,3 bilhões).

O BNDES diz que o total de recursos repassados a empresas brasileira­s foi de US$ 13,5 bilhões distribuíd­os em 47 projetos. Destes, 25 foram estimados em US$ 7 bilhões, dos quais US$ 2,3 bilhões já foram pagos, mas estão suspensos.

Contradiçã­o. A Odebrecht diz que o total de financiame­nto obtido para obras fora do País – não apenas na Venezuela – pelo BNDES, entre 2007 e 2014, é de US$ 10 bilhões. A empresa brasileira afirma que os pagamentos a autoridade­s venezuelan­as eram feitos após as obras serem concluídas, nunca de maneira antecipada.

Ontem, a empreiteir­a rejeitou a acusação de Ortega de que teria pago US$ 100 milhões em propina ao número dois do chavismo, Diosdado Cabello. A Odebrecht divulgou nota rebatendo a afirmação de que a empresa realizou depósitos à empresa espanhola TSE Arietis, que teriam acabado nas mãos de Cabello. De acordo com a nota, a Odebrecht fez uma varredura em seus sistemas e não identifico­u nenhum pagamento.

“Após exaustiva busca nos antigos sistemas e nos depoimento­s de seus ex-integrante­s que colaboram com a força tarefa da Lava Jato, a Odebrecht afirma que não procede a acusação de ter pago US$ 100 milhões ao ex-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello, e não fez nenhum pagamento neste valor, direta ou indiretame­nte, através de terceiros ou em seu nome, à empresa espanhola TSE Arietis, citada pela ex-procurador­a da Venezuela”, afirma a nota.

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