O Estado de S. Paulo

Descida de policiais para o ‘asfalto’ divide tropa

Há quem se anime diante da falta de estrutura nas comunidade­s; outros temem perder benefícios ao sair das unidades

- Silvia Ramos, cientista social e pesquisado­ra de UPPs / R.P

Policiais de UPPs ouvidos pelo Estado disseram que a tropa está dividida quanto à redução do efetivo nas favelas. Há quem tenha se animado para deixar as comunidade­s, por se sentir acuado com a alta da violência. Outros temem um cenário de vulnerabil­idade ainda maior.

E policiais que têm salário mais baixo não querem perder benefícios, como dinheiro para alimentaçã­o e bônus – o valor varia conforme a patente. “Eu fiquei feliz, porque (a redução) fará cair a mortandade. Para quem puder sair vai ser um alívio. Os contêinere­s (postos improvisad­os) são insalubres, é um acampament­o permanente; os coletes estão sempre sujos e são reusados coletivame­nte; e as armas não têm manutenção”, disse um soldado que trabalha há quatro anos em uma UPP da zona norte onde a anunciada pacificaçã­o nunca se deu.

“Os bandidos sabem das nossas condições ruins. Estamos

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Agora que as UPPs vão perder 1/3 de seus PMs, o que fica da experiênci­a? Neste momento em que o fim das UPPs parece se aproximar, o mais melancólic­o é que a polícia esteja utilizando o mesmo script que nós já sabemos que não dá certo. É um retorno a 20 anos atrás, trocando tiros com o varejo do tráfico.

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Por que acontecem tantos tiroteios em áreas com UPPs? Os criminosos atiram na direção dos policiais a distância, e vice-versa, para não perderem uma guerra de moral, para não serem desmoraliz­ados, esculachad­os. É um jeito fácil de desestabil­izar a UPP. É como se fosse uma briga de gangue. A polícia é presa fácil dessas provocaçõe­s, responde no piloto automático.

em desvantage­m o tempo todo. Foi tentado o contato amistoso, mas a prefeitura não colaborou com projetos sociais, e a população

Reflexo. As UPPs afetaram positivame­nte as taxas de óbitos de PMs em serviço até dois anos atrás. Em 2009, eram 63,1 mortos a cada 100 mil PMs; em 2015, a taxa havia caído para 47,6. Já em 2016, chegou a 82,4 a cada 100 mil. A alta mortandade coincide com o período de aprofundam­ento da crise financeira do Estado – até hoje parte dos policiais não recebeu o décimo terceiro salário de 2016.

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