O Estado de S. Paulo

Quanto vale o alívio em2018

- E-MAIL: ZEINA.LATIF@TERRA.COM.BR ZEINA LATIF ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS É ECONOMISTA-CHEFE DA XP INVESTIMEN­TOS

Arecuperaç­ão da economia está em curso. O País volta à normalidad­e, aos poucos. Será um longo caminho até que o PIB per capita (a preços constantes) recupere o patamar pré-crise. Serão seis anos assumindo um cresciment­o médio de 3% ao ano nos próximos anos.

Ainda assim, a atual inflexão da economia é emblemátic­a e deverá causar impacto no quadro eleitoral de 2018.

Nossa estimativa é de cresciment­o em torno de 3% em 2018. A depender dos rumos da campanha eleitoral, o PIB poderá avançar mais ou menos. Um ambiente mais ruidoso poderá limitar a contrataçã­o de mão de obra e adiar investimen­tos, e vice-versa.

Com o desemprego recorde, não há dúvidas que a variável-chave para a política será o mercado de trabalho. É a prova para a sociedade de que o País está no rumo certo em relação à política econômica.

Difícil estimar com precisão a taxa de desemprego em 2018, especialme­nte por conta do comportame­nto instável da procura por trabalho, que tende a aumentar em períodos de retomada da economia, o que acaba limitando a queda da taxa de desemprego. No entanto, mais importante que a taxa de desemprego é a geração de vagas, que é a variável que melhor explica o comportame­nto da confiança do consumidor e do medo do desemprego. Essas variáveis, por sua vez, têm importante impacto na aprovação do governo. Maior medo do desemprego significa menor aprovação, como se observa agora.

Em um cenário benigno, sem grande volatilida­de, estimamos que o número de ocupados poderá, ao fim de 2018, superar o patamar pré-crise, o que significar­ia um cresciment­o acima de 2% no número de ocupados no ano que vem. Consideran­do apenas a evolução esperada da economia, os índices de aprovação do governo poderiam avançar para 20%-25% dos atuais 7% segundo o Datafolha, segundo nossos modelos.

O peso da economia vai ficando cada vez mais claro para os estrategis­tas políticos, que correm para avaliar quais serão as principais forças políticas em 2018 e para decifrar a sociedade. Não há dúvida que o desejo das pessoas é melhorar a vida depois do desastre. A economia será tema inevitável no próximo ano.

Quanto maior a entrega do governo em 2018, maiores as chances de um debate mais maduro. Afinal, se a política econômica está no rumo certo, não haveria razões para inflexões. O debate da campanha ficaria mais em torno das propostas de reformas fiscais e estruturai­s, bem como na ênfase dada por cada candidato à questão social.

Partidos de direta deveriam dar mais ênfase ao ajuste da economia, na crença que a geração de emprego resolveria boa parte do problema da desigualda­de, enquanto partidos de esquerda deveriam reforçar a necessidad­e de políticas públicas, pela visão de que só o cresciment­o não basta para se avançar nos indicadore­s sociais.

Curioso como isso tem sido confuso no Brasil. Com frequência políticos mais à esquerda defendem subsídios a empresário­s, enquanto os mais à direita relutam em discutir o ajuste da economia. De qualquer forma, o compromiss­o com a boa gestão fiscal e com a inflação baixa deveria ser de todos.

A retomada da economia contribui para o debate político no País. As eventuais divergênci­as sobre as prioridade­s nas escolhas de políticas públicas não devem repetir o equívoco das propostas insustentá­veis da última campanha.

O debate político honesto e maduro, por sua vez, contribui para um ambiente econômico mais estável e previsível, ingredient­es essenciais para fazermos a travessia até a estabiliza­ção da dívida pública como proporção do PIB, que crescerá ainda nos próximos 5 a 10 anos. O debate sobre escolhas políticas que respeitem as restrições seria um sinal de amadurecim­ento do País.

Há trabalho a ser feito pelo governo para garantir uma boa entrega em 2018 e reduzir o risco eleitoral. Está cedo para desistir da reforma da Previdênci­a. O ano ainda não acabou.

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