O Estado de S. Paulo

‘Reajustes salariais vão ficar bem abaixo do previsto’

Em 12 meses até agosto, índice de inflação que baliza reajustes salariais tem alta de 1,27%, menor patamar desde 1994

- Márcia De Chiara

O economista Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia da USP, diz que o IPCA de agosto, de 0,19% surpreende­u. Mas ele destaca os resultados muito baixos atingidos pelo INPC, o índice que mede a inflação das famílias mais pobres, com renda de até cinco salários mínimos. O INPC teve deflação de 0,03% em agosto e, em 12 meses, acumulou alta de 1,27%, a menor marca da série desde 1994.

Como o INPC é o indicador que é referência para reajustar os salários, inclusive o mínimo, isso indica que os reajustes salariais deverão ficar bem abaixo do previsto, observa o economista. “Isso dará um alívio nas despesas dos Estados e dos municípios”, ressalta. Para este ano, Heron espera um IPCA em torno de 2,5%, bem abaixo do piso da meta (3%). A seguir, trechos da entrevista.

• O IPCA surpreende­u?

Sim, se pegarmos as estimativa­s de inflação em 12 meses desde a década de 1940, 2,46% até agosto é uma das menores taxas da inflação brasileira, exceto o período do final de 1998. Mas destaco o INPC, que mede a inflação para as famílias mais pobres. Em agosto o INPC teve deflação de 0,03% e acumula alta de 1,73% em 12 meses. É o menor resultado da série em 12 meses desde 1994. Também deve ser o menor taxa de inflação em 12 meses medida pelo INPC desde o início dos anos 1940. Antes de 1979, quando o INPC começou a ser apurado, havia outros indicadore­s calculados pelo Ministério do Trabalho, Fipe, FGV.

• Qual o impacto de um INPC muito baixo?

O INPC é o índice usado para reajustar salários, inclusive o mínimo. Isso significa que os reajustes do salário mínimo vão ficar bem abaixo do previsto. É claro que pode haver uma recuperaçã­o do INPC mais para frente. Muito provavelme­nte, como o INPC é referência para salários, ele dará um alívio para as despesas dos Estados, dos municípios e para o setor de serviços. O índice serve para ancorar a inflação porque os dissídios normalment­e são baseados no INPC.

A contribuiç­ão favorável da alimentaçã­o em agosto deve se manter nos próximos meses?

Depende. O mais provável é que a alimentaçã­o deixe de contribuir favoravelm­ente, principalm­ente no 4º trimestre. O IPCA deve ficar em torno de 2,5% no fim do ano.

Qual é a implicação de ter hoje uma inflação abaixo do piso da meta, que é de 3%?

Isso facilita a queda dos juros, que devem cair mais ponto na próxima reunião do Copom.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO -10/10/2014 Décadas. INPC menor vai segurar dissídios, diz Heron

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