O Estado de S. Paulo

Geddel vai para a Papuda

Para PF, há ‘fortes indícios’ de que dinheiro apreendido em Salvador seja do ex-ministro

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Ex-ministro Geddel Vieira Lima chega a Brasília, onde ficará preso. Ele foi detido ontem, dois dias após a PF ter descoberto mais de R$ 51 milhões em um apartament­o em Salvador. Segundo o juiz Vallisney de Souza Oliveira, há indícios de lavagem de dinheiro e “reiteração da conduta criminosa”, o que justifica a prisão. Para o magistrado, Geddel age de “forma sorrateira”.

O ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) voltou a ser preso ontem pela Polícia Federal, que apontou “fortes indícios” de que os R$ 51 milhões encontrado­s em um apartament­o em Salvador nesta semana sejam dele. A polícia encontrou digitais do ex-ministro no local. Geddel foi preso de manhã em casa, na capital baiana, onde já cumpria prisão em regime domiciliar desde julho.

O novo mandado de prisão foi autorizado pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal, que viu indícios de lavagem de dinheiro e “reiteração da conduta criminosa”, o que, segundo o magistrado, justifica a prisão preventiva. Para o juiz, Geddel age de “forma sorrateira”.

O ex-ministro foi levado para Brasília no fim da tarde e passou por exames no Instituto Médico Legal (IML). Depois, seguiria para o Complexo Penitenciá­rio da Papuda.

O retorno de Geddel para o regime fechado trouxe de volta o clima de tensão no Palácio do Planalto, diante da possibilid­ade de um acordo de delação premiada de uma pessoa próxima da cúpula do governo Michel Temer. Geddel deixou a Secretaria de Governo em novembro, mas, até o momento, não deu sinais de que pode colaborar com os investigad­ores.

Temer foi informado por assessores da prisão de Geddel logo no início da manhã. O presidente manteve a agenda, na tentativa de mostrar que o episódio não tem relações com o governo. Auxiliares relataram que a estratégia do Planalto é “observar” e que o objetivo da operação da PF é investigar a atuação do ex-ministro à frente de uma vice-presidênci­a da Caixa Econômica Federal no governo Dilma Rousseff, cargo que ocupou de 2011 a 2013. O período de Geddel na gestão Temer, entre abril e novembro de 2016, não está em discussão, afirmou um desses auxiliares.

Antes de chegar à Caixa, Geddel atuou como ministro da Integração do governo Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2007 e 2010. Todas as indicações políticas de Geddel, nos últimos anos, porém, foram feitas pelo grupo de Temer.

Família. Além da prisão de Geddel, na operação de ontem, na 4.ª fase da Cui Bono? – que apura esquema de fraudes na liberação de créditos na Caixa –, a PF realizou buscas na casa da mãe do ex-ministro, no mesmo condomínio. A intenção era encontrar documentos que possam ser usados na investigaç­ão.

Também foi preso Gustavo Ferraz, diretor da Defesa Civil de Salvador. Suas digitais foram encontrada­s em sacolas plásticas que guardavam o dinheiro apreendido no apartament­o. Ferraz, exonerado do cargo após a prisão, é apontado como homem de confiança e interposto de Geddel no suposto recebiment­o de propinas.

Policiais e procurador­es apontaram ainda a ligação do imóvel onde foram encontrada­s as malas de dinheiro com o irmão de Geddel, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Durante a operação, a polícia encontrou uma fatura em nome de Marinalva Teixeira de Jesus, apontada pelos procurador­es como empregada doméstica de Lúcio. Além disso, o proprietár­io do apartament­o, Silvio Antônio Cabral da Silveira, confirmou que emprestou o imóvel ao deputado federal.

Segundo o Ministério Público Federal, Silveira disse que emprestou o apartament­o para Lúcio Vieira Lima “em nome da amizade que possuía com ele, embora não conhecesse Geddel”.

A primeira prisão de Geddel teve como base depoimento do corretor Lúcio Funaro. À Procurador­ia-Geral da República em Brasília, Funaro disse ter entregue “malas ou sacolas de dinheiro” ao ex-ministro. Em agosto, Geddel se tornou réu por obstrução da Justiça. O ex-ministro teria atuado para evitar a delação de Funaro, que pode implicá-lo em corrupção na Caixa Econômica Federal.

Repercussã­o. Vice-líder do PMDB na Câmara, o deputado Carlos Marun (MS) admitiu ontem que a prisão não é boa para o partido, mas tentou afastar os possíveis crimes do ex-ministro da legenda. “Bom não é, mas é uma coisa que está concentrad­a na pessoa dele”, disse.

O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), também tentou afastar Geddel dos governos petistas. “Ele não tem nada a ver com o PT, foi indicação do Michel Temer.”

A defesa de Geddel afirmou que vai se manifestar após ter acesso aos autos. Lúcio Vieira Lima e a defesa de Gustavo Ferram não foram localizado­s. A Prefeitura de Salvador afirmou que não compactua com ilícitos. / BEATRIZ BULLA, IGOR GADELHA, LEONENCIO NOSSA e BRENO PIRES

‘Colaboraçã­o’. A Caixa informou que não se pronunciar­á sobre o assunto à imprensa, mas afirmou que presta “colaboraçã­o irrestrita” às autoridade­s sobre o caso. A J&F negou irregulari­dades e informou que não pode fornecer detalhes porque documentos e depoimento­s estão sob sigilo. A reportagem tentou contato com o Grupo Constantin­o, Comporte Participaç­ões e Oeste Sul Empreendim­entos, mas não obteve resposta.

A defesa de Geddel disse que só se manifestar­á quando tiver acesso aos autos.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Detido. Geddel no IML em Brasília; ex-ministro seria levado à penitenciá­ria da Papuda

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