O Estado de S. Paulo

Janot finaliza nova denúncia

Procurador-geral da República já identifico­u parte dos recursos desviados para abastecer políticos peemedebis­tas e aliados; partido nega irregulari­dades

- Ricardo Brandt Julia Affonso Fausto Macedo

O procurador-geral da República identifico­u parte dos recursos desviados para abastecer núcleo peemedebis­ta na Câmara. Segundo ele, as propinas somam R$ 350 milhões; o partido nega.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixou rastros de uma das últimas flechas que pretende atirar em direção ao presidente da República, Michel Temer, na denúncia do “quadrilhão do PT”. Janot aponta que o PMDB da Câmara recebeu, pelo menos, R$ 350 milhões do esquema de corrupção e cartel na Petrobrás.

A denúncia, que será encaminhad­a nesta semana ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava Jato, foi preparada para ter como alvo direto o presidente, apesar de Temer não ser investigad­o no inquérito que apura o pagamento de propinas a deputados do PMDB.

Em agosto, Fachin negou a inclusão do presidente no inquérito que apura se deputados do PMDB formaram uma organizaçã­o criminosa que atuou na Petrobrás e na Caixa. A decisão também foi estendida aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a).

Janot tenta imputar a Temer a liderança do grupo político peemedebis­ta na Câmara formado por aliados dele como os ex-presidente­s da Casa Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, presos acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com as investigaç­ões, o grupo político recebeu de 1%a 5% de propina desviados de recursos de contratos da Petrobrás. Um dos operadores do esquema é o corretor Lúcio Funaro, que admitiu em colaboraçã­o premiada intermedia­r repasses aos peemedebis­tas.

Um dos pontos da nova denúncia envolve o período da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006. De acordo com o procurador-geral da República, o PT buscou no PMDB apoio para recompor a base afetada com as denúncias do mensalão. O governo, na época, queria a aprovação da prorrogaçã­o da Contribuiç­ão Provisória sobre Movimentaç­ão Financeira (CPMF), que estava nas mãos do PMDB, sob relatoria Cunha.

Na denúncia do “quadrilhão do PT”, apresentad­a no dia 5, Janot sustenta que esses temas foram

negociados com “Michel Temer e Henrique Eduardo Alves, na qualidade de presidente e líder do PMDB”. Alves está preso desde junho pela Lava Jato. Os dois, segundo Janot, “concordara­m no ingresso do PMDB da Câmara na base do governo em troca de alguns cargos” como a presidênci­a de Furnas, o Ministério da Integração Nacional, a Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab), a Diretoria Internacio­nal da Petrobrás, entre outros”. No dia 30 de novembro de 2006, o Conselho Nacional do PMDB, presidido à época por Michel Temer, aprovou a integração da legenda à base aliada do governo Lula.

Ao todo, foram feitas 15 indicações políticas. Entre elas, o ex-ministro Geddel Vieira Lima,

que foi preso anteontem após a Polícia Federal descobrir um “bunker” supostamen­te mantido pelo peemedebis­ta em Salvador. No local, foram apreendido­s R$ 51 milhões.

‘Criminaliz­ação’. Com a denúncia do PMDB da Câmara, Janot encerrará as investigaç­ões contra integrante­s dos três principais partidos acusados de receber dinheiro desviado da Petrobrás. Os “quadrilhõe­s” do PT, PP e PMDB, juntos, somam cerca de R$ 3 bilhões desviados.

O procurador-geral destaca nas denúncias do “quadrilhão” da Lava Jato que “não se trata aqui de ‘criminaliz­ar a política’”, mas de atacar irregulari­dades. “Não há nem pode haver exercício regular da atividade política contra a Constituiç­ão, as leis do País e em detrimento justamente da sociedade que se pretende governar.”

Ao se dirigir a Fachin na semana passada, o procurador-geral disse que era “importante registrar que não há ilicitude por si só nas tratativas descritas”. Segundo o Janot, “o ilícito não está na constituiç­ão de alianças políticas, mas, sim, no uso delas como ferramenta para se arrecadar, a partir dos negócios firmados no âmbito destes cargos, propina”.

“No lugar de negociaçõe­s políticas, temos negociatas ilícitas nas quais a moeda de troca não era simplesmen­te divisão de poder para governar, mas, sim, a compra de apoio político com a utilização de dinheiro público.”

‘Governabil­idade’. O PMDB, por meio de sua assessoria de imprensa, negou envolvimen­to em ilícitos. O partido afirmou que toda sua arrecadaçã­o é legal, declarada e foi aprovada pela Justiça Eleitoral. O advogado de Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, disse que a Câmara dos Deputados negou autorizaçã­o para o prosseguim­ento de processo contra o presidente. Para ele, ao pedir a inclusão do presidente no inquérito do “quadrilhão”, ficou “evidente o desprezo de Janot pela governabil­idade e pela tranquilid­ade da Nação”. Cunha e Alves negam as acusações. A defesa de Geddel disse que só vai se manifestar após ter acesso à denúncia.

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