‘Pai’ do Atari lamenta ter vendido empresa
Pai do Atari fala sobre o passado e o futuro dos games; ele vem ao País para a BGS, maior feira do setor na América Latina
Quem vai às festas da família Bushnell pela primeira vez pode ter duas surpresas: a primeira é ver Nolan Bushnell, um senhor de 74 anos, requebrando ao som do hit dos anos 1980 “Flashdance” em frente a um videogame. A outra é saber que ele é um dos responsáveis por iniciar a bilionária indústria com a qual se diverte.
Há 45 anos, o engenheiro criou um jogo simples de “tênis virtual”, o Pong. Primeiro game comercial da história, ele deu origem à Atari, também fundada em 1972. “É um jogo maluco, porque ele usa uma bola quadrada”, disse Bushnell, em entrevista exclusiva ao Estado. Em outubro, o “pai do Atari” virá ao Brasil para contar histórias como essa, durante a 10.ª edição da Brasil Game Show, principal feira de games da América Latina.
Na entrevista a seguir, Bushnell fala sobre a trajetória tortuosa da Atari e discute temas como a realidade virtual – hoje, ele é dono de uma empresa que explora a tecnologia em fliperamas:
• O negócio de games é bilionário hoje. Como é ser um pioneiro? Tenho muito orgulho. Consegui ter uma vida divertida e interessante graças aos games.
• Qual é a diferença de fazer um jogo como Pong, nos anos 1970, e hoje em dia?
Tudo hoje é muito mais fácil. Tínhamos muitas limitações lá atrás: Pong é um jogo maluco, Para ver nosso sonho no mercado, vendi a Atari a quem tinha recursos. Eu me arrependo até hoje dessa decisão, pois ela levou a uma série de erros. Mas era a opção que eu tinha.
• Que série de erros?
Criamos o mercado de videogames, mas depois paramos de inovar. No Natal de 1982, a Atari deveria ter criado um novo videogame, mas decidimos insistir com o Atari 2600 por mais um ano. O que não sabíamos, na época, é que o mercado estava saturado. Nós nos apressamos para lançar o jogo do ET a tempo do Natal, mas o jogo era ruim, e quase todas as cópias foram devolvidas. Logo depois, a Atari faliu.
• Hoje, é comum “piratear” games antigos no PC, usando programas conhecidos como emuladores, para conhecer os games da Atari. Como o sr. vê o assunto? Os emuladores infringem os direitos autorais, mas são úteis para quem não pode pagar pelos jogos. Manter a cultura de games antigos é importante, mas é preciso achar formas de pagar os criadores.
• A Nintendo está relançando consoles antigos e o Atari terá uma versão retrô. É um caminho? Acho que sim. Os jogos daquela época eram muito bem construídos: como o hardware não era tão avançado, os jogos precisavam ser caprichados. Por isso eles ficaram no coração das pessoas. É como xadrez: é um jogo milenar, e quando jogo, gosto de usar peças de madeira. É a essência. Ter edições “retrô” dos videogames antigos é recuperar sua essência.
• O sr. tem hoje uma empresa de realidade virtual (VR). Essa tecnologia servirá para qualquer jogo? Ainda teremos telas e controles por muito tempo. Hoje, realidade virtual ainda é cara e tem pouco conteúdo. Primeiro, você vai pagar para jogar por 15 minutos, fora de casa, num fliperama. Depois, vai levar isso pra casa. Minha empresa monta fliperamas de VR.
• Como o sr. vê os jogos de hoje? Eu os adoro. Nas festas de família, jogamos Just Dance. Sou o melhor dançarino de “Flashdance”! Adoraria jogar (o game de tiro) Call of Duty, mas entro nas arenas e morro.
• Muita gente ainda acha que games são coisa de criança. O que o sr. pensa disso?
Os videogames são uma arma contra o envelhecimento, pois exercitam o cérebro. São um bom jeito de cumprir o ditado popular “mente sã, corpo sadio”.