Carroças com GPS
Ageração de postos de trabalho, numa época de transformações céleres, depende de políticas cada vez mais competitivas. Na média, os países estão ajustando bem suas estratégias às mudanças e o desemprego mundial está caindo desde 2013. Alguns tiveram mais sucesso, como a Alemanha, o Japão e o México, com taxas abaixo de 4%. Outros, como a Grécia, a África do Sul e o Brasil, ainda não conseguiram reformular adequadamente suas políticas e têm índices de desocupação acima de 10%. O desempenho de cada um na redução da desocupação reflete os efeitos das ações adotadas em quatro conjuntos de variáveis inter-relacionadas: as inovações; a globalização; a elasticidade emprego-produto; e o crescimento econômico.
Inovações aniquilam postos de trabalho em algumas empresas. Mas também aumentam a produtividade do trabalho e criam outros empregos, com perfis diferentes, em outros locais. Alguns países se adaptam mais rapidamente do que outros às mudanças e usufruem seus benefícios. Por exemplo, nos Estados Unidos, de 2010 a 2015, o emprego no setor de tecnologia, de acordo com o Federal Reserve Bank of Saint Louis, cresceu 20,3% e os salários aumentaram 20,8%. Empresas como a Apple, a IBM e o Google se destacaram gerando postos de trabalho no país.
No Brasil, há setores, como o da produção de aviões, que agregam cada vez mais valor. Mas, em média, o desempenho é fraco. Os empregos nos setores mais intensivos em tecnologia encolheram nos últimos anos.
A globalização crescente ampliou o mercado e a concorrência para as empresas e os trabalhadores. Os investimentos que geram ocupações são canalizados para os países onde é menos oneroso produzir e empregar, para servirem de plataformas de exportação para o resto do mundo.
Há classificações internacionais que apontam quais são os países mais competitivos. Na América Latina, o Brasil está em penúltimo lugar, induzindo empresas multinacionais e brasileiras a se instalarem em países vizinhos, a empregar lá e vender aqui. Em vez de exportar bens e serviços, o País exporta postos de trabalho.
A elasticidade emprego-produto mede a variação no emprego em razão da variação no produto. Supondo que o emprego cresça 1% quando o PIB aumenta 5%, seu valor seria de 0,2, resultado da divisão de 1% por 5%. Do ponto de vista do emprego, é conveniente que esse coeficiente seja elevado, quando o PIB está se expandindo.
Uma aproximação de seu valor relativo é a eficiência do mercado de trabalho. É medida pelo Fórum Econômico Mundial, onde o Brasil figura na 117.ª posição, entre 138 países analisados – comparativamente, é ineficiente, com restrições que atrapalham a geração de postos de trabalho. A reforma trabalhista avançou em alguns aspectos, mas retrocedeu em outros e ignorou inovações que poderiam aumentar ainda mais a elasticidade emprego-produto.
O crescimento do PIB é condição necessária, mas não suficiente, para impulsionar o emprego. Depende de que setores impulsionam o crescimento e de sua intensidade, que está fraca. Será positivo este ano, e algo próximo aos 2% nos anos seguintes. Está aquém das expectativas de um ano atrás, quando a atual equipe econômica assumiu.
Note-se que, com a mudança de política econômica, a melhoria do cenário externo, a safra recorde muito acima das projeções iniciais, a liberação de R$ 40 bilhões dos inativos do FGTS e a aprovação de todas as medidas propostas pelo Executivo, o que se esperava era uma elevação das projeções de crescimento, não uma queda.
A razão do enfraquecimento da retomada do PIB é a obsolescência de suas estratégias. É causada pela sociedade e pelo governo, que querem mudar mudando quase nada. Um exemplo é o debate sobre a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a Taxa de Longo Prazo (TLP). De um lado, os industriais querem mais subsídios num país em crise fiscal; do outro, o governo foca apenas em corrigir essa distorção; e os dois lados apoiam a perpetuação de um sistema financeiro obsoleto e ineficiente.
Atualmente, há países, como França, Estados Unidos e Japão, que não têm financiamento de bancos estatais e operam com margens (spreads) estreitas, prazos longos, volumes grandes e inadimplência baixa. Aqui, é o oposto, o sistema é uma carroça com GPS: tem tecnologia de ponta e marketing sofisticado e, ao mesmo tempo, arcabouço institucional arcaico e modelos de negócios retrógrados.
A consequência disso é que mais de 5 milhões de empresas têm anotações de inadimplência. Assim, seu crédito é cortado e limitado às linhas mais caras. E, como elas têm de pagar adiantado por material para produzir e vender, tornam-se inviáveis financeiramente, causando impactos nefastos no emprego.
Há mais carroças com GPS no Brasil. A estrutura tributária é outra. Sofisticada em tecnologia, mas antiquada no design, é complexa e regressiva (cobra proporcionalmente menos das rendas mais altas), tem distorções como a guerra fiscal e tributos em cascata e – mais grave de tudo – as propostas são de mais remendos, apenas. Mudar para valer, jamais!
Atualmente, há 15 milhões de lares no País onde ninguém tem trabalho –é o maior desemprego na América Latina. E está sendo tratado como um problema conjuntural, que será resolvido com o tempo. Não é. Tem um componente estrutural importante.
O que fazer? Começar a trocar as carroças do crédito, da tributação, do mercado de câmbio, do Judiciário, da administração do Estado e da educação por veículos mais eficientes. Com algumas substituições, apenas, podemos ter resultados surpreendentes.
Para o emprego, além de atuar nos quatro conjuntos de fatores mencionados anteriormente, é preciso focar em setores que geram muitos postos de trabalho. Um deles, com muito potencial de crescimento, é o turismo. O Brasil recebe apenas 0,5% dos viajantes a passeio do mundo.
O mundo se transforma a uma velocidade maior que a adaptação do Brasil ao novo ambiente. Há que inverter isso. Só.
Brasil precisa trocar sua estrutura de negócios e institucional por outra mais eficiente