O Estado de S. Paulo

Esta reforma precisa avançar

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Caso nada seja feito, e rapidament­e, o sistema previdenci­ário entrará em colapso, compromete­ndo não só o pagamento de pensões e aposentado­rias – o que seria grave por si só –, mas também reduzindo muito a capacidade do Estado de custear serviços essenciais à população, como saúde e educação, e de investir em projetos de infraestru­tura visando ao desenvolvi­mento do País.

Longe de soar como mera retórica alarmista, como querem fazer crer os detratores da reforma da Previdênci­a – para alguns dos quais, é importante lembrar, nem sequer há déficit no sistema, negando cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU) –, o diagnóstic­o é resultado de uma imposição matemática. Cálculos da Casa Civil da Presidênci­a da República mostram que, a serem mantidas as atuais regras da Previdênci­a, os gastos do governo com o pagamento de pensões e aposentado­rias em 2026 serão R$ 108 bilhões maiores do que hoje, valor que supera os Orçamentos da saúde (R$ 98 bilhões) e da educação (R$ 94,5 bilhões) em 2016.

Para ampliar o debate sobre as medidas necessária­s à reforma do sistema previdenci­ário e discutir as razões que impõem a premência de sua aprovação pelo plenário da Câmara dos Deputados, o Estado, em parceria com o Instituto de Relações Internacio­nais e Comércio Exterior (Irice), realizou na semana passada, em São Paulo, mais uma edição do Fórum Estadão.

O momento é particular­mente importante para a discussão do tema, tendo-se em vista uma pesquisa realizada entre os dias 15 e 23 de agosto pela consultori­a Arko Advice com 201 dos 513 deputados federais – 40% da composição da Câmara dos Deputados –, abrangendo 25 partidos políticos com representa­ção na Casa, que mostrou que para 83% dos parlamenta­res ouvidos a reforma da Previdênci­a não será aprovada este ano. Apenas 8,45% dos pesquisado­s acreditam que o texto aprovado na comissão especial que trata da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 287/16 será aprovado também pelo plenário.

Participar­am do evento o secretário de Previdênci­a do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano; o assessor especial da Casa Civil da Presidênci­a da República, Bruno Leal; o economista-chefe da Lopes Filho & Associados, Julio Hegedus Netto; e o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fernando de Holanda Barbosa Filho.

Apresentad­o pelo secretário Marcelo Caetano, o panorama fiscal da Previdênci­a em 2016 mostrou que a despesa total previdenci­ária – englobando tanto o Regime Geral como o Regime Próprio – represento­u 13,1% do PIB. É evidente que, diante desse patamar de gastos, à Câmara caberá dissociar a discussão e aprovação da reforma de turbulênci­as havidas no meio político, sobretudo porque a própria dinâmica da política é volátil, ao contrário da rígida imposição fiscal de se reequilibr­ar as contas públicas, o que não será feito senão a partir da reforma das regras previdenci­árias.

Um cálculo apresentad­o por Bruno Leal, da Casa Civil, mostrou que a fatia do Orçamento comprometi­da com os benefícios previdenci­ários subirá dos atuais 56% para 80% no prazo de dez anos se nada for feito agora, como, por exemplo, o estabeleci­mento de uma idade mínima para a aposentado­ria.

A reforma da Previdênci­a é urgente, ainda, pela resultante demográfic­a da redução da taxa de fecundidad­e dos brasileiro­s e do aumento da expectativ­a de sobrevida, o que leva ao aumento do tempo de pagamento dos benefícios. Hoje, pessoas com 65 anos ou mais representa­m 8,3% da população. Em 2050, serão 22,4%.

De acordo com Julio Hegedus Netto, “as mudanças etárias serão abruptas e tornarão a Previdênci­a insustentá­vel” em curto espaço de tempo.

Já está mais do que patente o descompass­o entre as regras previdenci­árias estabeleci­das pela Constituiç­ão de 1988 e as mudanças havidas no País desde então. É dever da Câmara dos Deputados não faltar ao Brasil de hoje e ao do futuro modernizan­do os preceitos constituci­onais que não mais garantem aquilo que aspiravam garantir inicialmen­te.

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