O Estado de S. Paulo

Até que ponto vai a loucura de Kim?

- HELIO GUROVITZ E-MAIL: GUROVITZ@ESTADAO.COM TWITTER: @GUROVITZ

“Nuh jukgo, nah jukja!” – você morre, eu morro. Assim é descrito em coreano o impasse entre Kim Jong-un e Donald Trump. É a situação imaginada em 1966 pelo Nobel de economia Thomas Schelling, autor do clássico A estratégia do conflito (1960) e primeiro a aplicar a Teoria dos Jogos à escalada nuclear. No jogo de Schelling, dois rivais lutam acorrentad­os à beira de um abismo. Se um desiste, o outro ganha o prêmio. Se nenhum desiste, os dois arriscam despencar juntos. Ele mostra que a melhor estratégia para levar o adversário a desistir é arriscar-se ao máximo perto da borda. “É preciso ficar no barranco num ponto de onde se possa cair apesar dos melhores esforços para se salvar, arrastando o adversário junto”, escreveu. Se um acredita mesmo que o outro é louco a ponto de matar os dois, acaba cedendo – daí o nome com que a estratégia depois ficou conhecida, Teoria do Louco. Não há surpresa, portanto, nas bravatas de Trump ou Kim. Eles competem no apetite pelo risco. Um precisa convencer o outro de que está mesmo disposto a apertar o botão vermelho. Mas, mesmo que a Teoria dos Jogos considere os blefes do pôquer nuclear, ela não permite perscrutar o objetivo concreto de cada jogador. “Simplesmen­te não sabemos como Kim Jong-un encara o uso do arsenal nuclear de seu país”, escreve na New Yorker Evan Osnos, que visitou a Coreia do Norte em agosto. “Em 18 anos de reportagem, nunca senti tanta incerteza.” Kim assume riscos porque quer mesmo a guerra para retomar a Coreia do Sul? Ou em defesa própria, por ter medo de acabar como Muamar Kadafi, que desmantelo­u seu programa nuclear, depois foi esmagado pelo Ocidente? O desfecho depende da resposta.

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