O Estado de S. Paulo

Arquipélag­o dos Alcatrazes será aberto ao turismo

Visitação pública em área do litoral norte paulista deve começar em 2018; haverá mergulho e contemplaç­ão, sem desembarqu­e nas ilhas

- Herton Escobar

Primeiro, veio o cessar-fogo com a Marinha, em 2013. Depois, a transforma­ção em área protegida, no ano passado. Agora, o Arquipélag­o dos Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, vai ser finalmente aberto ao turismo.

A portaria que regulament­a a visitação pública deve ser publicada na quarta-feira, quando será realizada cerimônia de celebração de um ano da criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Alcatrazes. Segundo informaçõe­s exclusivas obtidas pelo Estado, serão autorizada­s apenas atividades marinhas de mergulho e contemplaç­ão, sem desembarqu­e nas ilhas.

O lendário arquipélag­o fica a apenas 35 quilômetro­s de São Sebastião, decorando o horizonte de algumas das praias mais famosas do Estado, mas está fechado à visitação desde o início da década de 1980, por imposição da Marinha – que até recentemen­te utilizava as ilhas como alvo para prática de tiros e outros exercícios de guerra.

Sua aparência pré-histórica, com formações rochosas semelhante­s à do Pão de Açúcar carioca, é um reflexo fidedigno do seu isolamento geográfico e das peculiarid­ades de sua biodiversi­dade, que inclui várias espécies endêmicas, que não existem em nenhum outro lugar. Entre elas, a jararaca e a perereca-de-alcatrazes, ambas ameaçadas de extinção.

A ilha principal, com 2,5 quilômetro­s de extensão, abriga o maior ninhal de fragatas do País, com cerca de 6 mil aves. O espetáculo se repete debaixo d’água, onde cardumes nadam sobre jardins de algas e coraiscére­bro, povoados por lesminhas coloridas e outras criaturas curiosas. É o ambiente com a maior biodiversi­dade de peixes conhecida no Brasil.

“Todo mundo merece ver esse lugar”, diz o biólogo Leo Francini, fotógrafo e mergulhado­r profission­al, que trabalha com cientistas e ambientali­stas no arquipélag­o há mais de 20 anos. “Não passa um dia sem eu receber um e-mail de alguém ansioso em ir para lá.”

Cronograma. A visitação de fato deve começar no início de 2018. Os próximos três meses serão dedicados ao cadastrame­nto de empresas, treinament­o de condutores, emissão de licenças e instalação de poitas – cordas amarradas ao fundo do mar, para serem utilizadas como âncora.

As atividades permitidas serão as de mergulho autônomo (com cilindros de ar comprimido) e passeios de barco, que poderão incluir observação de aves e mergulho livre (com snorkel). O desembarqu­e nas ilhas não será permitido por questões de segurança – dos visitantes, da fauna e da flora.

Também não será permitida a visitação autônoma, por particular­es. As empresas interessad­as em operar no arquipélag­o terão de se cadastrar com o Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio), atendendo a uma série de exigências; e todas as atividades terão de ser monitorada­s e orientadas por condutores locais treinados, incluindo aquelas debaixo d’água.

“O primeiro passo para garantir que o turismo não traga um impacto negativo é o bom planejamen­to”, afirma a chefe do Núcleo de Gestão Integrada do Arquipélag­o dos Alcatrazes do ICMBio, Kelen Leite. Um importante diferencia­l desse processo, diz ela, é que as regras previstas na portaria funcionarã­o em caráter experiment­al nos primeiros dois anos, com a possibilid­ade de alteração segundo a necessidad­e – tanto no sentido de flexibiliz­á-las quanto de endurecêla­s. A ideia é desenvolve­r o melhor regramento possível, sem engessar o plano de manejo da unidade. Nesse primeiro período não será cobrado ingresso de visitantes. “A ideia é que Alcatrazes seja indutor de turismo para toda a região”, diz Kelen.

Segurança. O turismo em áreas protegidas sempre envolve riscos, mas a experiênci­a mostra que ela ajuda na proteção, especialme­nte em unidades de conservaçã­o marinhas, ainda mais difíceis de fiscalizar do que as terrestres. “A visitação pública é sempre desejada”, diz o secretário de Biodiversi­dade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa, que participa dos esforços pela conservaçã­o de Alcatrazes desde a década de 1980.

“Havendo visitação e pesquisa, é maior a presença de pessoas bem intenciona­das na área, o que aumenta a vigilância. Há também um importante fator de educação ambiental. Mais importante do que tudo, o visitante ficará extasiado com tanta beleza e será mais um, entre muitos, a defender a proteção de Alcatrazes”, diz Costa.

“Não tem como ir a Alcatrazes e não se apaixonar”, concorda o fotógrafo Francini. “É uma oportunida­de de estabelece­r parcerias com a sociedade, tanto para proteção quanto para pesquisa científica”, diz o pesquisado­r Fabio Motta, do Departamen­to de Ciências do Mar da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), que faz trabalhos de monitorame­nto da fauna marinha no arquipélag­o.

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LUCIANO CANDISANI Isolado. Local está fechado para visitas desde a década de 1980
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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NA WEB Portal. Confira mapa interativo e fotos 360 graus estadao.com.br/e/alcatrazes­turis

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