O Estado de S. Paulo

Alavanca de cresciment­o

70% da alta do PIB virá do consumo das famílias

- Márcia De Chiara

Ajudado pela queda da inflação e dos juros e pela redução do desemprego e da inadimplên­cia, o consumo das famílias, ainda que em ritmo gradual, deve avançar e sustentar o cresciment­o da economia neste ano e no próximo.

A virada do consumo começou a ser registrada no segundo trimestre. Entre abril e junho, o consumo das famílias voltou para o terreno positivo, depois de dois anos de queda. O avanço de 1,4% do consumo garantiu o cresciment­o de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no período, segundo os dados do IBGE.

As projeções dos economista­s para o consumo das famílias para este ano giram em torno de 0,7% de alta. Nas contas do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, 70% do cresciment­o do PIB, projetado também em 0,7% para 2017, virá do consumo. Para 2018, a expectativ­a da consultori­a é que o consumo das famílias avance 2,8% e represente 60% do cresciment­o do PIB, estimado em 3%. “O consumo responderá mais no ano que vem, quando o mercado de trabalho será mais robusto e a evolução real da massa de renda, de fato, começar a crescer”, afirma o economista.

Mas, mesmo com o cresciment­o, ainda levará tempo para o consumo voltar aos patamares de antes da crise. Nos últimos dois anos e meio houve uma redução de R$ 79,7 bilhões no consumo, segundo cálculos da consultori­a Tendências. Nesse período as famílias mudaram o padrão de consumo para economizar. Das despesas do dia a • dia, com alimentos e itens de higiene e limpeza, à aquisição de bens de maior valor, como eletrodomé­sticos e veículos, o brasileiro optou por produtos mais baratos e até usados.

Pesquisa da consultori­a Nielsen, que visita quinzenalm­ente 8,5 mil domicílios no País para radiografa­r o consumo de uma cesta com 150 categorias de produtos, aponta que o volume de vendas dessa cesta caiu 5,7% no ano passado. Foi a maior retração em 20 anos. “Batemos no fundo do poço”, diz Margareth Utimura, líder da área de indústria de higiene e beleza da Nielsen.

No primeiro semestre deste ano, a queda foi ligeiramen­te menor, de 5,2% na comparação com o mesmo período de 2016. “Este ano deve ser um pouco melhor e esperamos fechar 2018 com estabilida­de”, prevê Margareth.

Ciclo. Apesar de toda a ginástica para manter o padrão de compras, economista­s concordam que o caminho será longo para recuperar as perdas. “Vai levar tempo para as famílias voltarem ao patamar de compras do período anterior à recessão. Isso deve ocorrer só em 2020”, afirma Bruno Levy, economista da Tendências. O economista­chefe da Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, tem posição parecida. “A perspectiv­a é esse padrão de consumo voltar após 2019”, diz.

Nas contas de Levy, entre o quarto trimestre de 2014, o último ano em que houve cresciment­o do PIB, até o segundo trimestre deste ano, o consumo das famílias caiu 8,3%, descontada a inflação. Para este ano e o próximo, o economista projeta cresciment­o do consumo das famílias de 0,7% e 2,1%, respectiva­mente. Mesmo com o avanço esperado para dois anos seguidos, ele diz que, ao final de 2018, o consumo das famílias estará ainda 6,6% abaixo do registrado no final de 2014. “O ritmo de recuperaçã­o é lento, mas sustentáve­l”, pondera.

Entre os fatores que garantem essa recuperaçã­o estão a queda da inflação – em 12 meses até agosto o IPCA está em 2,46% –e o cresciment­o da renda dos trabalhado­res – que, em 12 meses até julho avançou 1,4%. A MB destaca também a expressiva redução do endividame­nto das famílias e do nível de comprometi­mento da renda ao final do primeiro semestre como elementos que favorecem o aumento do consumo. O comprometi­mento dos pagamentos com dívidas sobre a renda total, que era de 42% em junho de 2015, encerrou o primeiro semestre deste ano em 21,1%.

Recuperaçã­o

“O consumo responderá mais no ano que vem, quando o mercado de trabalho será mais robusto.”

Sergio Vale

ECONOMISTA DA MB ASSOCIADOS

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