O Estado de S. Paulo

‘NÃO SOMOS LÍDERES, MAS SAÍMOS DA LANTERNINH­A’

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Oano de 2017 será um marco para a energia solar no Brasil. Até dezembro, o País terá o seu primeiro gigawatt (GW) vindo da energia solar. Isso significa quase uma hidrelétri­ca de Sobradinho, na Bahia, cuja represa está no menor nível da história. “Há hoje no mundo entre 25 e 30 países com essa capacidade instalada. Estamos longe da liderança, mas saímos da lanterninh­a”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltai­ca (Absolar), Rodrigo Sauaia.

Para chegar a essa marca, foram investidos cerca de R$ 5 bilhões em toda a cadeia produtiva. Hoje, o País tem 282 MW instalados de energia solar – muito pouco para o potencial brasileiro, que é da ordem de 28.500 GW, diz Sauaia. Para se ter ideia do que isso significa, o potencial hídrico do Brasil é de 172 GW e o eólico, de 440 GW.

Efeito dos leilões realizados pelo governo nos últimos anos, o setor chegará a 2018 com 3,3 GW de potência instalada. “Se todos os projetos forem entregues na data prevista, teremos um salto importante.” Daí para a frente, no entanto, é preciso aguardar novos leilões. Em dezembro, o governo vai realizar uma disputa para contratar energia que será entregue em quatro anos, e a solar poderá participar.

Mas a crise econômica, que reduziu o consumo de eletricida­de no País, atrasou a expansão da fonte, que vinha em ascensão. O dólar mais alto encareceu o preço dos equipament­os e tirou a viabilidad­e de alguns projetos, a ponto de serem devolvidos para o governo federal. “Mas essa foi uma decisão de poucos investidor­es. A maioria manteve seu plano de investimen­to”, diz Sauaia. No total, 250 MW (ou 0,25 GW) foram devolvidos. Nos primeiros leilões, o preço da energia solar ficou entre R$ 200 e R$ 300 o MWh.

Sauaia diz que, em alguns países, a solar já é mais barata que a eólica. Isso é resultado do avanço tecnológic­o, que dá mais eficiência e torna os equipament­os mais baratos. Só no ano passado, houve um incremento de 75 GW na matriz mundial, que conta com capacidade de 305 GW – o dobro de toda a matriz brasileira.

Desafio. Por aqui, um dos principais desafios do setor é desenvolve­r a cadeia produtiva de forma a baratear o custo da energia, como ocorreu com a energia eólica. O presidente da Absolar diz que o cenário vem mudando e que já há cerca de 20 fabricante­s no País. O difícil, no entanto, é competir com o preço dos chineses.

Apesar dos desafios, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Augusto Barroso, diz que o futuro elétrico está na energia renovável. “Daqui para a frente, não vamos ter uma expansão de geração por meio de hidrelétri­cas de grande porte, como ocorreu até agora.” Nesse vácuo, as novas fontes vão ganhar espaço, especialme­nte a eólica e a solar. “Todas tiveram um período de maturação das tecnologia­s que culminaram na redução de custos.”

De acordo com o Plano Decenal de Energia 2021-2026, a fonte solar deverá alcançar cerca de 7 GW no período. Barroso explica que, assim como a eólica, a solar é complement­ar às demais fontes, com o benefício de produzir mais no horário de pico. Mas, como são fontes intermiten­tes, que não produzem o tempo todo, haverá necessidad­e de elevar a participaç­ão das térmicas a gás na matriz elétrica para dar segurança ao sistema. “Teremos uma matriz bem mais diversific­ada e robusta.” /R.P.

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