O Estado de S. Paulo

Atari moldou cultura corporativ­a do Vale do Silício

Empresa, que empregou o jovem Steve Jobs, foi uma das primeiras a ter horários flexíveis e benefícios ‘divertidos’

- / B.C.

Videogames no escritório, camiseta e bermuda no lugar do terno, horários flexíveis a ponto de parte da empresa trabalhar só de madrugada. Hoje esses “benefícios” parecem corriqueir­os para qualquer startup ou companhia do Vale do Silício. A culpa é da Atari, uma das pioneiras a ter um ambiente de trabalho liberal. “Hoje, os jovens querem trabalhar no Google, na Apple ou no Facebook. Nos anos 1970, a Atari era essa empresa dos sonhos”, diz Maurício Benvenutti, sócio da plataforma de startups StartSe.

Segundo Nolan Bushnell, a principal inspiração para esse “novo ideal de espaço corporativ­o” veio do movimento hippie, cujo quartel-general era São Francisco, a maior cidade próxima ao Vale. “Nosso ideal era não se submeter ao sistema, todo mundo era igual e não havia hierarquia – nas festas ou nas vagas de estacionam­ento”, diz o fundador da empresa. A juventude dos executivos da Atari ajudava – tanto Bushnell como seu sócio, Allan Alcorn, tinham menos de 30 anos quando a empresa abriu as portas.

Até uma banheira de hidromassa­gem estava entre os “benefícios” do escritório em Sunnyvale – a ideia era que o local servisse para “inspirar os pensamento­s” dos criadores de games. “Nós estávamos criando diversão, então precisávam­os nos divertir”, explica o empreended­or. Mas a vida dentro da Atari não era só diversão. “Eles eram adultos e tinham de ser responsáve­is. Quem não entregasse seu trabalho era demitido”, diz Bushnell.

De certa forma, é um ideal que permanece até hoje – segundo Benvenutti, do StartSe, as vantagens oferecidas por Google, Facebook ou Apple ajudam a atrair talentos, mas não são sempre usadas. “É difícil ver alguém jogando pingue pongue às três da tarde.”

Jobs. Um dos jovens ousados que trabalhara­m na Atari foi Steve Jobs. Anos antes de fundar a Apple, Jobs era conhecido na empresa por seu odor caracterís­tico – às vezes, ele ficava três dias sem tomar banho, diz Bushnell – e pelo entusiasmo. “Ele apareceu um dia na recepção e disse: quero trabalhar aqui e não vou sair daqui até conseguir isso”, lembra o fundador da Atari. “Ele havia desistido da faculdade, mas conhecia eletrônica. Era suficiente.”

Mesmo depois de deixar a Atari para começar sua própria empresa, Jobs manteve a amizade com o antigo chefe. Jobs chegou a ponto de oferecer a Bushnell que fosse o primeiro investidor da Apple, dando um terço da empresa em troca de apenas US$ 50 mil. Bushnell recusou. Se tivesse aceitado o negócio e mantido sua participaç­ão, ele poderia ser ainda mais rico do que é hoje. “Eu poderia ser bilionário”, diz Bushnell. “É óbvio que eu me arrependo. E como!”

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Jobs ofereceu um terço da Apple ao ex-chefe
KIMBERLY WHITE/REUTERS-27/1/2010 Laço. Jobs ofereceu um terço da Apple ao ex-chefe

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