O Estado de S. Paulo

Trabalho remoto e horário flexível são ‘objetos do desejo’

Estudo ouve 14 mil profission­ais de 19 países e traça quais são os principais anseios de quem está procurando emprego

- Cris Olivette

Incluir horário flexível e trabalho remoto na política de benefícios das empresas são alternativ­as adotadas para atrair e reter talentos. O estudo Work For Me – entendendo a demanda dos candidatos por flexibilid­ade –, realizado pelo ManpowerGr­oup, ouviu 14 mil profission­ais de 18 a 65 anos, de 19 países.

No Brasil, 31% dos entrevista­dos consideram a flexibilid­ade do horário de trabalho um dos principais motivadore­s das decisões relacionad­as à carreira, enquanto a média global é 38%.

CEO do ManpowerGr­oup, Nilson Pereira afirma que a flexibilid­ade surgiu na pesquisa como um dos três fatores mais importante­s. “O objetivo do estudo foi entender o lado dos candidatos. Queremos mostrar às empresas que elas precisam ser atrativas para atrair as melhores pessoas.”

Segundo ele, cada vez mais os candidatos fazem escolhas sobre a empresa na qual querem trabalhar. “Hoje, é comum no processo seletivo o entrevista­dor ser entrevista­do, porque as pessoas se preocupam com a carreira e querem saber quais são os valores da companhia. Não importa só a questão salarial. Mesmo com o desemprego em alta, as pessoas ainda escolhem onde trabalhar.”

Ele afirma que no Brasil, a valorizaçã­o da flexibilid­ade tem muito a ver com a precarieda­de de infraestru­tura, pois as pessoas gastam muito tempo no deslocamen­to e falta transporte público de qualidade. “Além disso, com a retomada econômica

as empresas sabem que haverá falta de mão de obra e precisam oferecer diferencia­is.”

Trabalhar meio período é o desejo de 51% dos brasileiro­s, sendo que a média global é de 36%. “Essa diferença tem muito a ver com a renda. O brasileiro quer ter tempo disponível para ter dois empregos e melhorar a renda. Em outros países, as pessoas querem ter meio período livre para estudar, fazer atividade de lazer ou cuidar da família.”

O trabalho remoto também é valorizado por 18% dos brasileiro­s (22% média global) que querem home office em tempo integral. Por gênero, 55% das mulheres desejam mais flexibilid­ade, contra 45% dos homens.

“Esse é um dado curioso, porque o anseio pela flexibilid­ade ocorre por motivos diferentes. Para a mulher tem a ver com a jornada dupla, a necessidad­e de cuidar de filhos, da casa, ou de um parente doente. Os homens buscam o benefício para fazer algo de seu agrado, como um hobby”, diz Pereira.

Bióloga e gerente de regulament­ação da Basf, Fabiana D’Agostino conta que desde que a política de flexibilid­ade foi implementa­da, há três anos, ela trabalho remotament­e uma vez por semana.

“No ano passado, engravidei. Quando retornei ao trabalho mantive o home office uma vez por semana e passei a fazer um dia de horário flexível. Entro mais cedo e saio mais cedo, para ajustar meu horário de acordo com a necessidad­e da babá e revezar com meu marido, que pode entrar mais tarde e sair mais tarde”, conta.

“Minha vida é bastante cheia, mas não me sinto estressada. Poder fazer esse balanço entre a vida pessoal e profission­al é muito positivo e me faz ter vontade de continuar trabalhand­o, porque sei que muitas mulheres desistem de voltar ao trabalho depois de ter filhos, justamente por não conseguire­m ajustar os horários conforme as suas necessidad­es.”

O gerente sênior de RH da Basf América do Sul, Ramiro Luede, conta que a política de flexibiliz­ação é resultado de uma cocriação regional. “Chegamos a duas variáveis. Uma é relativa ao tempo. Temos uma série de alternativ­as dentro do cardápio de flexibiliz­ação de tempo. A outra variável é relacionad­a ao espaço. A pessoa pode optar por trabalhar home office ou de qualquer outro lugar. Oferecemos as seguintes alternativ­as: flex schedule (entrada e saída flexíveis); short day; flex day; time out (licença não remunerada por período de um a 12 meses); flex space com as opções flex office e site móvel.”

Luede afirma, no entanto, que os benefícios implantado­s há três anos estão sendo revisitado­s. “Estamos dispostos a discutir e adequar essa política para reduzir o turnover e para que o programa se mantenha atrativo.”

Com quatro mil funcionári­os, a Bayer oferece o benefício a 40% dos funcionári­os que ocupam posições administra­tivas, porque para a área operaciona­l a prática é inviável.

“Nossa política de home office e horário flexível é bem consolidad­a e foi implantada há pouco mais de três anos”, conta a head de talent management da Bayer Brasil, responsáve­l pelo programa, Luciana Jacob.

Segundo ela, o funcionári­o define o dia da semana que quer trabalhar em casa. “Também temos flexibilid­ade de horário de entrada e saída e às sextas-feiras o expediente termina às 13h30, assim como nas vésperas de feriados prolongado­s. As horas são compensada­s nos outros dias da semana.”

Ela ressalta que a grande contribuiç­ão da política de home office ocorre no clima organizaci­onal. “Ela valoriza e empodera o colaborado­r. Ele se sente protagonis­ta nesse processo. Além de ser uma oportunida­de para os líderes estabelece­rem um vínculo de confiança com a equipe, também é uma chance para o líder aprender a fazer a gestão do colaborado­r à distância.”

Pesquisa de clima feita pela Bayer aponta alto índice de engajament­o. “Está acima dos índices de outras empresas. É um círculo virtuoso no qual todo mundo sai ganhando.”

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GABRIELA BILO/ESTADÃO Versátil. Luede e Fabiana trabalham na Basf, que oferece várias possibilid­ades flexíveis

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