Lições do gramado
Notícias bombásticas dominaram a mídia nos últimos dias, mas sempre prevalecem as ruins. Uma boa (na minha opinião), mas não menos polêmica, foi a maior negociação da história do futebol (R$ 821,4 milhões), entre Neymar Jr. e Paris Saint-Germain. Gostaria de olhar a contratação à luz de teorias de gestão de pessoas.
Uma adequada gestão estratégica de pessoas é essencial para viabilizar a estratégia da organização, principalmente se está num cenário de expansão e novos intentos estratégicos. Nesse sentido, gerenciar talentos e competências, envolvendo os três grandes processos de gestão de pessoas: movimentação, desenvolvimento e valorização, é condição fundamental. Lembrando que: 1) movimentação contempla captação, internalização, transferências, promoções, expatriação e recolocação; 2) desenvolvimento lida com capacitação, carreira e desempenho; e 3) valorização aborda os aspectos de remuneração, premiação, serviços e facilidades.
De modo geral, quem investe mais em formação dá perspectivas de crescimento e não precisa ter salários acima do mercado para atrair talentos. Quem investe menos em formação, para ser atrativo, tem de acenar com vantagens salariais e benefícios.
Então, por que causou tanto furor quando o PSG assumiu o grande desafio na negociação com o jogador? Para colocar o time em um patamar mais elevado nas competições internacionais, definiram metas claras no tocante à gestão de talentos e propuseramse a fazer reengenharia financeira, vendendo jogadores e renegociando contratos, para poder ter no elenco uma estrela de primeira grandeza.
Embora o clube tenha investido nas “categorias de base”, ainda não surgiu nenhuma estrela que possa se igualar a Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar Jr. e precisa investir alto na contratação de talentos para formar um elenco campeão, como idealiza.
Ou seja, quem quer instalar novo patamar de competências estratégicas tem de ter pessoas com competências excepcionais para lhe dar sustentação. O choque foi o valor envolvido? Sem dúvida, astronômico! Mas nessas carreiras, como em qualquer outra, valem as regras do mercado.
O retorno sobre o investimento segundo o presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi foi muito rápido, e o “efeito Neymar” já vem impactando as finanças da instituição, que passou a ter um valor de mercado de mais de 1 bilhão e meio de euros. Sem contar o grande volume de vendas na loja virtual, que em duas horas superaram 500 mil euros.
Analisando do ponto de vista individual, a carreira espetacular de Neymar Jr. sintoniza-se perfeitamente com os principais e modernos conceitos de gestão de carreiras: protagonismo e carreira sem fronteiras.
De acordo com especialistas, a carreira sem fronteiras prevê o desenvolvimento de uma relação independente e transacional entre organização e indivíduo, em que o trabalho é trocado por remuneração estipulada, em que cabe às pessoas a responsabilidade pelo desenvolvimento do conhecimento e das habilidades necessárias para a movimentação profissional.
Caracteriza-se por alto grau de autonomia. Deixam de valer as regras do modelo tradicional de carreira: a relação de emprego de longo prazo, a ascensão continuada na hierarquia, a troca de lealdade do empregado por segurança no emprego, a aquisição de benefícios e símbolos de status crescentes. Trabalhadores precisam construir um sentido para a sua vida profissional e, para tanto, precisam fazer os seus próprios planos pessoais e profissionais.
Segundo declarações de Neymar Jr., a possibilidade de crescer profissionalmente foi o principal estímulo para dar esse grande e legítimo passo e aceitar a oportunidade oferecida pelo PSG. Talvez, a única objeção a seu comportamento Jr. no gerenciamento de sua carreira seja a necessidade de aprender a deixar “portas abertas” nas instituições que ficaram para trás.