O Estado de S. Paulo

Ameaça à segurança digital é o maior desafio da automação

Para especialis­ta, risco de invasão hacker ao sistema é ‘calcanhar de Aquiles’ das recentes tecnologia­s do cotidiano

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Julia Levenstein, de 23 anos, segue religiosam­ente um ritual dominical. No horário programado, as luzes de seu quarto começam a acender paulatinam­ente, enquanto as caixas de som ecoam uma playlist feita para a ocasião.

A “cena”, como é chamada tecnicamen­te, é relativame­nte simples de criar. Funciona assim: por meio do aplicativo, o usuário agenda o horário para as mudança na luz e no som, além de controlar remotament­e os eletrodomé­sticos de casa.

Parece perfeito, como outros serviços de automação, mas a comodidade pode colocar em risco a segurança digital da pessoa, adverte Alexandre Barbosa de Lima, professor de engenharia elétrica da PUC-SP.

“A chance de informaçõe­s privadas serem roubadas é enorme”, alerta. Segundo Lima, redes não criptograf­as estão sujeitas à invasão. “Alguns vírus simples podem infectar o computador ou o celular e ‘entrar’ no teclado, por exemplo, onde senhas são digitadas, inclusive de contas bancárias.”

O professor de Ciência da Computação do Instituto Mauá de Tecnologia João Carlos Lopes é mais otimista em relação ao assunto. Para ele, os serviços costumam estar hospedados em redes seguras. Mas alerta para cuidados básicos, como senhas seguras e uso constante de antivírus.

“Existe a possibilid­ade de roubo do acesso à porta eletrônica, mas arrombamen­tos sempre existiram”, diz. A diferença é que uma casa inteligent­e estaria pronta para emitir sinais e, inclusive, ligar para a polícia e enviar para o celular do proprietár­io fotos do momento.

A ameaça à segurança digital derivada da automação é um contrassen­so, já que a preocupaçã­o com a proteção do lar é o principal motivo para a adoção do sistema.

Estudo da GfK, empresa alemã de pesquisas de mercado, mostra que, com exceção dos boomers, que priorizam economia de recursos, todas as demais gerações veem a automação como um meio de garantir a segurança. (Veja quadro acima)

Barbosa Lima reconhece os benefícios da automação, mas insiste no que classifica como “calcanhar de Aquiles”. “Sem treinament­o adequado, estamos expostos aos perigos.”

Lopes lembra, ainda, que a situação é especialme­nte crítica no Brasil, um dos países com maior número de hackers.

Lar doce Lar. A próxima compra de Julia será uma fechadura eletrônica. Depois, pretende adicionar à sua “cena de domingo preguiçoso” cortinas motorizada­s que serão acionadas com os primeiros raios de sol.

Ela não é muito atenta à tecnologia, mas diz ser “neurótica” por economia de água e energia. “Ao sair de casa, aperto um botãozinho que desliga tudo. Quando eu era pequena, a casa dos meus pais pegou fogo, acho que isso me deixou meio obcecada. Confiro pelo aplicativo se está tudo apagado mesmo.”

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De aparelhage­m de som a câmeras, tudo pode ser acessado pelo celular
ILUSTRAÇÃO: PIXABAY Possibilid­ades. De aparelhage­m de som a câmeras, tudo pode ser acessado pelo celular
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