Negócio real, dinheiro virtual
Empreendedores ligados em tecnologia e inovação estão adotando criptomoeda como forma de pagamento e de divulgação na marca
Empreendedores começam a aceitar pagamentos com bitcoin para se divulgarem e atrair consumidores ligados em tecnologia; Lalo Zanini (foto) aceita a moeda em sua empresa
Atuando no ramo de restaurantes há 30 anos, o dono da Tartuferia San Paolo, Lalo Zanini, gosta de incorporar novidades ao negócio. A mais recente é que todos os seus estabelecimentos estão aceitando pagamento com a moeda virtual bitcoin.
A ideia surgiu quando conheceu um gestor de bitcoin em Recife, onde está montando uma unidade da Tartuferia. “O DNA de minha carreira empreendedora sempre foi lançar coisas novas. Tenho o único restaurante do Brasil que aceita pagamento em três vezes sem juros. Agora, somos os primeiros a aceitar criptomoeda”, conta.
Zanini também foi pioneiro nas campanhas com cartões de crédito no final dos anos 1980. “Fui atrás das marcas de cartões e apresentei projeto mostrando que era interessante fazer parceria com restaurantes. Hoje, é uma coisa comum mas na época ninguém fazia isso.”
Segundo ele, o próximo passo é lançar várias promoções para incentivar o uso de bitcoin.
“Estou desenhando as promoções e parcerias com o pessoal que faz a gestão de meus bitcoins. Penso em algo como: pagando com bitcoin não cobramos a rolha, coisas desse tipo.”
Ele diz que o volume de pagamentos feitos com a moeda virtual está crescendo. “Divulgo pelas minhas redes sociais. Tenho quase 100 mil seguidores e o retorno está sendo muito legal. Todos comentam que gostaram da inovação. O público gosta de novidades.”
Segundo ele, a iniciativa tem
por objetivo popularizar o uso da moeda virtual em conjunto com campanha de marketing agressiva. “Ano passado, quando lancei o pagamento em três vezes, a repercussão foi enorme. O faturamento aumentou 30% e nunca mais caiu.”
Fundado há dois anos, o JS Hostel, de Daniel Rodrigues, aceita bitcoin desde janeiro. “Conheci a moeda em dezembro do ano passado, estudei o assunto para entender como funciona e passei a aceitar essa forma de pagamento.”
Rodrigues achou o conceito da moeda interessante. “Ela tem edição limitada, as regras são claras, é descentralizada, pois não fica nas mãos de bancos e governos. É uma moeda mais democrática, apesar de as pessoas ainda não terem acesso tão fácil. Assim que evoluir um pouco mais, não tenho dúvida de que será a moeda do futuro e não quero ficar de fora.”
Ele conta que divulgou a novidade nas redes sociais e no site do hostel. “Muitas pessoas comentaram e aprovaram a iniciativa, dizendo que quando vierem a São Paulo irão se hospedar no hostel e pagar em bitcoin. Mas até agora nenhum pagamento foi feito nessa moeda. Quem tem e acredita na criptomoeda está guardando, porque a valorização tem sido acima de qualquer outro investimento.”
A loja virtual de suplementos Ultrafitness também aceita bitcoin. “Ainda são poucas as vendas que recebo por bitcoin, mas algumas vezes acontece. Acho que são pessoas curiosas que compram a moeda virtual para
ver como funciona”, diz o proprietário, Eduardo Oliveira.
Ele também acredita que quem compra bitcoin quer obter ganho financeiro, por conta da valorização acentuada.
Mercado. CEO do Buscapé Company, Sandoval Martins acredita que muitos negócios estão aceitando a moeda para navegar numa campanha de marketing, se colocando como inovadores.
“No meu caso, tenho muitas barreiras. O Buscapé pertence a uma grande empresa de capital aberto. Temos de seguir um código de ética rígido. Não podemos aceitar pagamento em bitcoin por existir a possibilidade de lavagem de dinheiro. Mas estamos avaliando uma forma para que possamos aceitar.”
Segundo ele, uma alternativa seria as empresas que oferecem meios de pagamento online para lojas virtuais, incluírem essa opção de pagamento. “Nesse caso, para nós seria possível aceitar. Acho que essa é a tendência.”
Sandoval confirma que está crescendo o número de pequenos lojistas que aceitam as criptomoedas. “Mas para não correrem riscos, eles recebem o pagamento por meio de exchange
(definição no quadro acima), que na mesma hora converte o valor em real.”
Em termos de investimento, o CEO considera o bitcoin uma moeda de risco, porque tem alta volatilidade, que por enquanto está sendo positiva.
“Gosto de acompanhar a cotação em tempo real pelo aplicativo CoinCap. Mas sei que não dá para controlar a previsibilidade de sua flutuação. Ainda não existe nenhum economista capaz de prever sua tendência, porque não temos uma amostra muito forte”, explica.