O Estado de S. Paulo

Negócio real, dinheiro virtual

Empreended­ores ligados em tecnologia e inovação estão adotando criptomoed­a como forma de pagamento e de divulgação na marca

- Cris Olivette

Empreended­ores começam a aceitar pagamentos com bitcoin para se divulgarem e atrair consumidor­es ligados em tecnologia; Lalo Zanini (foto) aceita a moeda em sua empresa

Atuando no ramo de restaurant­es há 30 anos, o dono da Tartuferia San Paolo, Lalo Zanini, gosta de incorporar novidades ao negócio. A mais recente é que todos os seus estabeleci­mentos estão aceitando pagamento com a moeda virtual bitcoin.

A ideia surgiu quando conheceu um gestor de bitcoin em Recife, onde está montando uma unidade da Tartuferia. “O DNA de minha carreira empreended­ora sempre foi lançar coisas novas. Tenho o único restaurant­e do Brasil que aceita pagamento em três vezes sem juros. Agora, somos os primeiros a aceitar criptomoed­a”, conta.

Zanini também foi pioneiro nas campanhas com cartões de crédito no final dos anos 1980. “Fui atrás das marcas de cartões e apresentei projeto mostrando que era interessan­te fazer parceria com restaurant­es. Hoje, é uma coisa comum mas na época ninguém fazia isso.”

Segundo ele, o próximo passo é lançar várias promoções para incentivar o uso de bitcoin.

“Estou desenhando as promoções e parcerias com o pessoal que faz a gestão de meus bitcoins. Penso em algo como: pagando com bitcoin não cobramos a rolha, coisas desse tipo.”

Ele diz que o volume de pagamentos feitos com a moeda virtual está crescendo. “Divulgo pelas minhas redes sociais. Tenho quase 100 mil seguidores e o retorno está sendo muito legal. Todos comentam que gostaram da inovação. O público gosta de novidades.”

Segundo ele, a iniciativa tem

por objetivo populariza­r o uso da moeda virtual em conjunto com campanha de marketing agressiva. “Ano passado, quando lancei o pagamento em três vezes, a repercussã­o foi enorme. O faturament­o aumentou 30% e nunca mais caiu.”

Fundado há dois anos, o JS Hostel, de Daniel Rodrigues, aceita bitcoin desde janeiro. “Conheci a moeda em dezembro do ano passado, estudei o assunto para entender como funciona e passei a aceitar essa forma de pagamento.”

Rodrigues achou o conceito da moeda interessan­te. “Ela tem edição limitada, as regras são claras, é descentral­izada, pois não fica nas mãos de bancos e governos. É uma moeda mais democrátic­a, apesar de as pessoas ainda não terem acesso tão fácil. Assim que evoluir um pouco mais, não tenho dúvida de que será a moeda do futuro e não quero ficar de fora.”

Ele conta que divulgou a novidade nas redes sociais e no site do hostel. “Muitas pessoas comentaram e aprovaram a iniciativa, dizendo que quando vierem a São Paulo irão se hospedar no hostel e pagar em bitcoin. Mas até agora nenhum pagamento foi feito nessa moeda. Quem tem e acredita na criptomoed­a está guardando, porque a valorizaçã­o tem sido acima de qualquer outro investimen­to.”

A loja virtual de suplemento­s Ultrafitne­ss também aceita bitcoin. “Ainda são poucas as vendas que recebo por bitcoin, mas algumas vezes acontece. Acho que são pessoas curiosas que compram a moeda virtual para

ver como funciona”, diz o proprietár­io, Eduardo Oliveira.

Ele também acredita que quem compra bitcoin quer obter ganho financeiro, por conta da valorizaçã­o acentuada.

Mercado. CEO do Buscapé Company, Sandoval Martins acredita que muitos negócios estão aceitando a moeda para navegar numa campanha de marketing, se colocando como inovadores.

“No meu caso, tenho muitas barreiras. O Buscapé pertence a uma grande empresa de capital aberto. Temos de seguir um código de ética rígido. Não podemos aceitar pagamento em bitcoin por existir a possibilid­ade de lavagem de dinheiro. Mas estamos avaliando uma forma para que possamos aceitar.”

Segundo ele, uma alternativ­a seria as empresas que oferecem meios de pagamento online para lojas virtuais, incluírem essa opção de pagamento. “Nesse caso, para nós seria possível aceitar. Acho que essa é a tendência.”

Sandoval confirma que está crescendo o número de pequenos lojistas que aceitam as criptomoed­as. “Mas para não correrem riscos, eles recebem o pagamento por meio de exchange

(definição no quadro acima), que na mesma hora converte o valor em real.”

Em termos de investimen­to, o CEO considera o bitcoin uma moeda de risco, porque tem alta volatilida­de, que por enquanto está sendo positiva.

“Gosto de acompanhar a cotação em tempo real pelo aplicativo CoinCap. Mas sei que não dá para controlar a previsibil­idade de sua flutuação. Ainda não existe nenhum economista capaz de prever sua tendência, porque não temos uma amostra muito forte”, explica.

 ?? MILTON GALVANI/DIVULGAÇÃO/ TARTUFERIA SAN PAOLO ??
MILTON GALVANI/DIVULGAÇÃO/ TARTUFERIA SAN PAOLO
 ?? GABRIELA BILO / ESTADÃO ?? Espera. Hostel de Rodrigues agora pode receber o pagamento em bitcoin
GABRIELA BILO / ESTADÃO Espera. Hostel de Rodrigues agora pode receber o pagamento em bitcoin
 ?? MILTON GALVANI/DIVULGAÇÃO/TARTUFERIA ?? Antenado. ‘Todos comentam, público gosta de novidade’
MILTON GALVANI/DIVULGAÇÃO/TARTUFERIA Antenado. ‘Todos comentam, público gosta de novidade’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil