O Estado de S. Paulo

Um empreended­or de sucesso

Fundador da Apis Flora transformo­u sua pesquisa acadêmica em empresa milionária

- Bianca Soares

“Empreender, antes de qualquer coisa, é acreditar no que você está propondo. Muitos negócios não se sustentam, porque a finalidade está centrada no lucro, não há propósito. Também é preciso pensar em algo inovador, que não está dado”, afirma Manoel Tavares, fundador da Apis Flora.

Líder nacional na fabricação e comerciali­zação de mel e extratos vegetais, a Apis Flora começou como produção artesanal no quintal da casa de Manoel Tavares, na época um aspirante a engenheiro agrônomo. O lucro das vendas ajudava a manter o estudante universitá­rio de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, na Unesp de Jaboticaba­l.

Tavares foi o único dos quatro filhos de um casal de agricultor­es a ingressar na faculdade. O aumento da demanda local por mel somado à expertise desenvolvi­da no câmpus o levou a enxergar as abelhas como negócio sério. Foi assim que, ainda tímida, surgiu em 1982 a empresa familiar.

O capital inicial veio de reservas próprias. A visão conservado­ra em relação ao crédito externo, aliás, se estendeu pela primeira década da fabricante. Para Tavares, a resistênci­a pode ter sido uma de suas principais falhas como empreended­or principian­te. “Os primeiros anos foram de cresciment­o muito lento, porque eu me recusava a buscar financiame­nto.”

O momento atual é de transição. Raul Tavares, filho do fundador e atual diretor executivo da Apis Flora, assume o comando no final de 2017. O pai, ainda um pouco avesso a crédito alheio, já sabe que o sucessor tem uma visão distinta de gestão, mas diz não se preocupar.

O novo presidente chegará ao posto em um dos melhores momentos da empresa. Em 2016, durante a crise econômica, o faturament­o da companhia atingiu os R$ 35 milhões, 62% maior do que o registrado no ano anterior. A projeção para 2017 é crescer 12% .

O fundador atribui o êxito à vocação modernizan­te da empresa. Destaca, por exemplo, que nunca perdeu o vínculo com a universida­de, seja acompanhan­do a pesquisa acadêmica seja financiand­o-a. A Apis aproveita a proximidad­e geográfica com a USP - Ribeirão para incentivar novos estudos no segmento do mel.

Cabeças jovens têm preenchido os laboratóri­os da fabricante com novas ideias. São cerca de 100 produtos acabados no catálogo, além de produção de insumo para as indústrias farmacêuti­ca, alimentíci­a e de cosméticos. Extrato de própolis, méis compostos, fitoterápi­cos e chás estão entre os principais artigos.

A convivênci­a com os jovens pesquisado­res da universida­de levou a empresa de Tavares a desenvolve­r, em conjunto com uma startup, procedimen­tos 100% automatiza­dos para vendas. A ideia é agilizar a logística e aumentar a eficiência na recepção e entrega de pedidos.

Começo duro. “No início, nosso maior entrave foi com os órgãos públicos. Muitos dos nossos produtos, por serem novos, desenvolvi­dos em laboratóri­o, não tinham registro no Ministério da Agricultur­a. Nossa legislação é retrógrada e acabou travando muitos lançamento­s. Aliás, até hoje temos esse problema. A solução foi, e continua sendo, participar ativamente do debate sobre a regulament­ação dos produtos.”

Experiênci­a. “Passei quase toda a minha vida perto das abelhas, mas, logo após a faculdade, fiquei dez anos trabalhand­o com crédito rural, fazia parte da equipe de projetos de um banco. Acontece que era muito distante daquilo que eu gostava de fazer e voltei a me dedicar à produção de mel. Esse período no mercado acabou me dando uma visão estratégic­a boa, que desenvolvi no meu próprio negócio.”

Propósito. “Empreender, antes de qualquer coisa, é acreditar no que você está propondo. Muitos negócios não se sustentam, porque a finalidade está centrada no lucro, não há propósito. Também é preciso pensar em algo inovador, que não está dado. Nós apostamos na pesquisa científica, desenvolve­mos produtos que não existiam no Brasil, fomos pioneiros na produção de própolis.”

Mundo. “Exportamos para mais de 20 países, com a China como nosso principal parceiro. Nosso diferencia­l é que vendemos produtos prontos, enquanto grande parte do segmento exporta matéria-prima. Mas exportar também é um desafio. Cada país tem legislação e exigências diferentes a respeito dos componente­s dos produtos, dos rótulos. Para lidar com isso, criamos um departamen­to centrado nessas questões.”

Capacitaçã­o. “Temos como paradigma que nossos funcionári­os são nosso maior patrimônio, por isso apostamos muito em capacitaçã­o. Cerca de R$ 80 mil por ano são investidos na formação e especializ­ação do nosso quadro. O resultado é comprometi­mento com o negócio. Há colaborado­res que entraram na Apis como aprendizes, cursaram a faculdade com nosso auxílio e hoje são gerentes de suas áreas. Outros fizeram mestrado e doutorado, o que demanda tempo e recursos.”

Orgânico. “Nosso produtos são naturais e atendem a um nicho específico. É difícil fazer com que as pessoas percebam que, embora os orgânicos sejam um pouco mais caros, a quantidade de nutrientes que oferecem é bem maior. Ou s eja, no final das contas, você está mais bem alimentado e evita riscos sérios à saúde. Mas esse ainda é um entrave para nós.”

Sustentabi­lidade. “O cresciment­o sustentáve­l está em nossa carta de princípios. Participei dos primeiros debates sobre o tema ainda na faculdade e trouxe isso para a Apis. A apicultura é um dos negócios mais ecológicos que existem. É importante ter valores claros e aplicá-los. Uma das principais preocupaçõ­es é entregar um produto livre de qualquer contaminan­te.”

Crença

“Empreender, antes de qualquer coisa, é acreditar no que você está propondo. Muitos não se sustentam, porque não há propósito”

Manoel Tavares

FUNDADOR DA APIS FLORA

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MURILO CORTE/APIS FLORA/DIVULGAÇÃO Tavares. Fundador atribui o êxito do negócio à vocação modernizan­te da companhia e vínculo com a universida­de

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