O Estado de S. Paulo

Trump chama Temer para discutir Venezuela

Diplomacia. Situação caótica da Venezuela deverá ser tema principal de jantar que magnata americano oferecerá em Nova York, na segunda-feira, para os presidente­s de Brasil, Colômbia e Peru, às vésperas da abertura da Assembleia- Geral das Nações Unidas

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A crise na Venezuela deverá ser um dos temas principais do jantar que o presidente Donald Trump oferecerá na segunda-feira em Nova York ao brasileiro Michel Temer, ao colombiano Juan Manuel Santos e ao peruano Pedro Pablo Kuczynski. O encontro ocorrerá na véspera da abertura da Assembleia- Geral da ONU.

Brasil e Colômbia têm extensas fronteiras com a Venezuela e o Peru foi o anfitrião da reunião de agosto em que 17 países da região declararam não reconhecer a Assembleia Constituin­te convocada pelo presidente Nicolás Maduro e pediram o pleno restabelec­imento da ordem democrátic­a no país.

Desde que chegou à Casa Branca, em janeiro, Trump endureceu a posição dos EUA em relação à Venezuela. Nesse período, sua gestão impôs três rodadas de sanções contra Caracas. As duas primeiras atingiram integrante­s do governo, entre os quais o presidente Nicolás Maduro, classifica­do de “ditador” pelos americanos. As mais recentes, adotadas em agosto, restringir­am a capacidade de financiame­nto externo da Venezuela, com a proibição de compra de bônus emitidos pelo governo de Maduro ou pela estatal petrolífer­a PDVSA.

Em 11 de agosto, Trump declarou que não descartava a possibilid­ade de uma “opção militar” na Venezuela, caminho que é rejeitado pelos países latino-americanos. A tradição diplomátic­a brasileira também não vê com bons olhos sanções unilaterai­s, como as adotadas pelos EUA, e prefere as que são adotadas no âmbito da ONU.

Não estava claro se o presidente americano pedirá uma ação mais incisiva dos três líderes convidados para o jantar na busca de solução para a situação venezuelan­a. O governo brasileiro avalia que as opções são limitadas, já que Caracas conseguiu até agora bloquear iniciativa­s da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) de atuar na crise. Os países favoráveis à ação da entidade criaram um grupo paralelo, que se reuniu em Lima no mês passado.

Defensor de uma ação mais agressiva da instituiçã­o em relação à Venezuela, o secretário­geral da OEA, Luis Almagro, nomeou em julho um assessor especial para tratar de crimes de lesa-humanidade. O escolhido foi o ex-promotor da Corte Penal Internacio­nal Luis Moreno Ocampo. No fim desta semana, ele começará a realizar audiências para determinar se há elementos para sustentar um processo por crimes de lesa-humanidade contra o governo venezuelan­o na Corte Penal Internacio­nal. As sessões deverão ser concluídas em outubro.

A Venezuela não será o único tema do jantar. A agenda é “aberta” e cada presidente terá liberdade para levantar questões de seu interesse. Existe a expectativ­a de que Trump aborde o programa nuclear da Coreia do Norte, que se transformo­u na maior crise geopolític­a de seu governo.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, Temer usará o encontro para sustentar que a economia brasileira está em recuperaçã­o e falar das reformas propostas por seu governo. Esta será a primeira vez em que os dois presidente­s se reúnem. Ambos conversara­m rapidament­e no encontro do G20 na Alemanha, em julho. Na ocasião, Trump mencionou a melhoria nos indicadore­s econômicos do Brasil e Temer defendeu maior contato entre empresário­s dos dois países. “Gosto disso”, respondeu o americano, de acordo com pessoa familiariz­ada com a conversa.

Até meados do ano havia a expectativ­a de que o brasileiro realizasse uma visita oficial aos EUA e tivesse um encontro bilateral com Trump. Reuniões desse tipo produzem declaraçõe­s conjuntas e são acompanhad­as de acordos e iniciativa­s em âmbito ministeria­l. Nada disso acontecerá

no jantar em Nova York.

Na manhã de terça-feira, Temer fará o discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, que tradiciona­lmente é proferido por presidente­s brasileiro­s. Trump falará em seguida. O governo venezuelan­o anunciou no mês passado que Maduro não participar­á do encontro, que reúne líderes de todo o mundo.

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