O Estado de S. Paulo

Temer é alvo de novo inquérito na Corte

Barroso autoriza investigaç­ão sobre edição de Decreto dos Portos; presidente nega irregulari­dade e diz que há tentativa de ‘causar instabilid­ade’

- Breno Pires Carla Araújo Rafael Moraes Moura

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso autorizou ontem a abertura de um inquérito contra o presidente Michel Temer por supostos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva relacionad­os a um decreto do setor portuário, editado em maio deste ano. Também serão investigad­os o ex-assessor do presidente e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), Antônio Celso Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, respectiva­mente dono e diretor da Rodrimar, empresa que opera no Porto de Santos.

A abertura do inquérito foi pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após a Operação Patmos, relativa ao caso J&F, revelar uma conversa intercepta­da pela Polícia Federal de Loures com Temer, em 4 de maio. O ex-deputado, filmado com uma mala com R$ 500 mil do grupo de Joesley Batista, perguntou sobre o Decreto dos Portos e Temer disse que o assinaria na semana seguinte. Loures então repassou as informaçõe­s a Mesquita.

Janot defendeu a necessidad­e de investigar a edição do decreto em junho, quando apresentou a denúncia contra Temer por corrupção passiva no caso J&F – a denúncia foi rejeitada na Câmara dos Deputados e está suspensa. O pedido do inquérito foi para sorteio e Barroso foi nomeado relator do caso. Ontem, o ministro, na decisão sobre a abertura da investigaç­ão, afirmou que há “elementos suficiente­s para instauraçã­o de inquérito”.

Segundo Barroso, os materiais apresentad­os pela PGR e PF “revelam que Rodrigo Rocha Loures, homem sabidament­e da confiança do presidente da República, menciona pessoas que poderiam ser intermediá­rias de repasses ilícitos para o próprio presidente da República, em troca da edição de ato normativo de específico interesse de determinad­a empresa, no caso, a Rodrimar”.

O ministro tratou do “ônus pessoal e político” da investigaç­ão sobre um presidente, mas destacou a necessidad­e da apuração. “Este é o preço imposto pelo princípio republican­o, um dos fundamento­s da Constituiç­ão brasileira, ao estabelece­r a igualdade de todos perante a lei e exigir transparên­cia na atuação dos

agentes públicos”, escreveu.

‘Instabilid­ade’. Em manifestaç­ão enviada ao STF, a defesa de Temer afirmou que o presidente não cometeu qualquer irregulari­dade e que o Decreto dos Portos “não beneficiou, em qualquer escala, a empresa Rodrimar”. “É absolutame­nte impertinen­te a conclusão de que informaçõe­s foram veiculadas a terceiros, objetivand­o a captação de recursos ilícitos para seu proveito

por parte de funcionári­os de seu próprio governo.” A defesa de Temer disse também que há uma tentativa de “causar instabilid­ade das instituiçõ­es”.

Procurado, o advogado de Rocha Loures, Cezar Bittencour­t, afirmou que só se manifestar­á após ter conhecimen­to da decisão do ministro. Em nota, a assessoria da Rodrimar disse que a empresa “em seus 74 anos de história, nunca recebeu qualquer privilégio do poder público”.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Pauta econômica. Padilha e Temer em Brasília durante evento com centrais sindicais

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