MPF vê ‘batom na cueca’ contra Lula
Procurador responsável pela Operação Zelotes aponta tráfico de influência do ex-presidente para compra de caças suecos na gestão Dilma
O procurador Hebert Mesquita, responsável pela Operação Zelotes, disse ontem que as provas apresentadas em denúncia de tráfico de influência contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são “batom na cueca” e demonstram que o petista, após deixar o Palácio do Planalto, ofereceu seu prestígio a empresas, em troca de viabilizar um contrato bilionário e a edição de uma medida provisória no governo da petista Dilma Rousseff.
De acordo com o investigador, a acusação está baseada em uma série de mensagens e documentos que comprovam que Lula e o filho caçula, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva, se envolveram em negociações com lobistas do setor privado sobre a compra de caças fabricados pela multinacional sueca Saab e a edição da Medida Provisória 627, de 2013, que prorrogou incentivos fiscais a montadoras de veículos. Ambas as decisões foram tomadas na gestão Dilma.
Mesquita afirmou que houve encontros entre os investigados para tratar dos dois assuntos e que uma empresa de Luís Cláudio recebeu R$ 2,5 milhões do lobista Mauro Marcondes Machado, representante das companhias interessadas nas decisões, como remuneração pelo apoio de Lula. O repasse foi revelado pelo Estado em 2015.
O procurador lembrou ainda que, em um e-mail descrito na denúncia, por exemplo, os investigados mencionam que a MP só seria feita se Lula mandasse. “Está tudo documentado. Com o perdão da expressão, é batom na cueca”, afirmou, ao sair de uma audiência na 10.ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.
Durante a sessão, ontem, quatro testemunhas de defesa de Lula e do filho depuseram na ação penal que avalia as condutas dos dois e de outros réus. Falaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o extitular do Ministério da Fazenda na gestão do tucano Pedro Malan e os ex-ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa). Os dois últimos exerceram os cargos nos governos petistas. Os depoentes negaram saber se o expresidente influenciou decisões de Dilma ou algum outro agente político.
Para o procurador, as testemunhas, “de certa forma”, corroboram a denúncia. Ele explicou que a investigação sobre o caso não diz se, efetivamente, algum gestor público chegou a ser influenciado por Lula ao tomar decisões. É que, conforme o Ministério Público Federal, somente o fato de “vender fumaça”, ou seja, oferecer a possibilidade de interferência no governo, em troca de vantagem, é crime, bastando, portanto, para uma acusação criminal.
O ex-presidente Fernando Henrique disse que a Força Aérea Brasileira (FAB) já tinha preferência pelos caças Gripen em 2002, ao fim de seu governo. Em depoimento por videoconferência, ele explicou que a opção da Aeronáutica lhe foi manifestada em uma reunião, mas que ele preferiu não comprar as aeronaves de defesa naquele momento para não “onerar” a gestão do sucessor, Lula.
Defesa. O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou, em nota, que “a acusação de tráfico de influência contra o ex-presidente Lula é manifestamente despropositada e desprovida de materialidade”.