O Estado de S. Paulo

Das togas às urnas

- Pedro Floriano Ribeiro PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA NA UFSCAR

Aum ano da eleição presidenci­al, a política brasileira tem um dia de expectativ­a com o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Poucos no PT acreditam que Lula escapará de ser considerad­o inelegível – no mais tardar, na deliberaçã­o em segunda instância pelo TRF. Enquanto isso, o partido elabora (e desmente) seus planos B,C, D etc., no que se avizinha como seu maior desafio: sobreviver à desintegra­ção política de seu líder.

A condição de Lula como estrela solitária do PT resulta de seu próprio estilo ao longo dessas quase quatro décadas: amálgama a manter unidas as facções petistas, Lula nunca facilitou a emergência de líderes nacionais que pudessem fazer sombra a ele. Por outro lado, a sucessão de escândalos de corrupção abateu diversos herdeiros potenciais da liderança lulista, abrindo uma fissura geracional no partido.

Sem Lula, resta ao PT compor com forças de centro (Ciro Gomes), oferecendo nomes como Jaques Wagner ou Fernando Haddad na condição de cabeça ou vice. A boa notícia para os petistas é que se desenha um cenário de fragmentaç­ão na centro-direita (hoje favorita): uma disputa fratricida no PSDB e projetos pessoais de Meirelles, Bolsonaro, entre outros. Se a essa fragmentaç­ão somarmos a capilarida­de do PT, a identifica­ção de parcelas do eleitorado, e a condição de principal opositor de um governo impopular, abre-se um panorama de competitiv­idade para qualquer candidato petista.

No outro front, o PSDB se angustia em torno de suas indecisões e de um problema de timing. Se Lula for derrubado, um candidato de perfil conciliado­r (Alckmin) desponta como melhor nome; se Lula sobreviver, será um candidato competitiv­o em uma eleição polarizada, empurrando os tucanos para uma retórica anti-PT mais inflamada (Doria). Porém, a decisão judicial sobre Lula provavelme­nte será posterior à definição do candidato tucano, e o PSDB terá de movimentar suas peças um tanto às cegas. De qualquer modo, tudo passará pelos magistrado­s antes da decisão dos eleitores nas urnas – algo pouco alvissarei­ro para qualquer democracia.

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