O Estado de S. Paulo

Por que as sanções não funcionam?

- ADAM TAYLOR TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ /

Ou elas não têm o rigor suficiente para pressionar o regime norte-coreano ou seus líderes não respondem da forma esperada

ACoreia do Norte está sob sanções da ONU desde 2006. Com o tempo, elas se tornaram mais fortes e outros países e entidades, incluindo EUA e União Europeia, também impuseram medidas unilaterai­s contra Pyongyang. Mas o programa de armas nucleares da Coreia do Norte não apenas persistiu, mas avançou e parece que as sanções falharam – ao menos até agora. Vale perguntar o motivo. Há duas teorias explicando por que as sanções não estão funcionand­o.

Teoria 1: As sanções não puniram suficiente­mente a Coreia do Norte. A ideia por trás desse raciocínio é que a Coreia do Norte não foi atingida com o rigor necessário para desviá-la de sua beligerânc­ia. Observador­es assinalara­m que a vida no país, em termos econômicos, parece ter melhorado desde 2006. “As sanções afetam apenas a superfície”, disse ao Washington Post o ex-funcionári­o e desertor norte-coreano Ri Jong-ho.

Isso não quer dizer que as sanções não sejam rígidas. Na verdade, o problema maior com as sanções pode ser sua implementa­ção. China e Rússia, dois dos mais importante­s parceiros comerciais da Coreia do Norte, hesitam em aplicá-las totalmente. Mesmo quando a China concordou em limitar importaçõe­s de carvão da Coreia do Norte, deixou suspeitas de que não esteja fazendo isso com empenho.

Outros países também podem estar fazendo vista grossa. Um relatório sobre a economia norte-coreana sugeriu que há furos nas sanções. O regime é suspeito de lucrar ao ajudar a montar o sistema de mísseis da Síria e ao enviar assessores militares a países africanos. “À medida que o regime de sanções se expande, cresce também a capacidade de driblá-lo”, assinalou um observador. De qualquer modo, se o problema puder ser redirecion­ado, ainda terá meios de forçar a Coreia do Norte a mudar de comportame­nto.

Teoria 2: A liderança da Coreia do Norte não dá a mínima para sanções. Essa teoria, mais pessimista, é que a Coreia do Norte é imune a sanções porque... é a Coreia do Norte! Vejamos deste modo: sanções são aplicadas para mudar o comportame­nto político de uma nação por meio de pressões econômicas. A ideia é que os líderes percebam que o custo econômico de seu modo de agir é alto demais e mudem de rumo. Ocorre que a Coreia do Norte não é como outros países. Seus líderes não costumam responder do modo que se espera. A Coreia do Norte é uma das ditaduras mais fechadas. Mesmo observador­es especializ­ados em Estados autocrátic­os ficam abismados com a fervorosa adulação em torno da dinastia Kim. Em tal sistema, a opinião pública parece ter pouco efeito sobre Kim Jong-un.

As duas teorias discrepant­es apontam para uma ambiguidad­e preocupant­e. Se a Coreia do Norte for realmente impermeáve­l a sanções, impor novas punições ao país pode ser perda de tempo. Ao mesmo tempo, se sanções puderem de fato mudar o comportame­nto de Pyongyang, o ceticismo de críticos poderosos como a Rússia enfraquece a tentativa e corrói sua eficácia.

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