O Estado de S. Paulo

Cuidado com o andor!

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Aágua bate no pescoço e os são-paulinos estão preocupado­s com o que lhes reserva o destino em 2018. Com razão. Desta vez, o perigo de ir para a Série B não é imaginário, como em ocasiões mais ou menos recentes, mas real, quase iminente: o retrospect­o precário no Brasileiro e a penúltima colocação atestam a fase angustiant­e.

A primeira reação em casos semelhante­s foi a tradiciona­l troca de comando. Saiu Rogério Ceni, com a imagem desgastada de ídolo como jogador, e veio Dorival Júnior. Na ocasião, se optou por técnico experiente como forma de acelerar a recuperaçã­o. Já ali se via um sintoma de nervosismo, típico de quem teme o pior.

Pois bem, a mudança não trouxe os efeitos desejados. A equipe continua a balançar, os resultados negativos se acumulam, a pontuação míngua. Crescem pressão e medo, a torcida comparece em massa ao estádio; no entanto, já cobra com veemência e algumas vaias. Jogadores escancaram mal-estar interno, como provam declaraçõe­s de Rodrigo Caio em relação a Cueva.

Agora, surge outro episódio que pode incrementa­r a tensão – e surgiu com a maior das boas intenções. Muricy Ramalho, no momento comentaris­ta do SporTV, disse que gostaria muito de ajudar o clube com o qual tem enorme ligação afetiva. Falou assim, de maneira espontânea, no ar. Como tem compromiss­o com a emissora de tevê, ficaria à disposição para ajuda voluntária.

A oferta foi imediatame­nte encampada pela direção, como admitiu Vinicius Pinotti, diretor de futebol tricolor. Tanto que houve contato com o treinador, sempre na base de sabe como é, pois então, toda ajuda é bem-vinda, porém precisa ter a concordânc­ia de Dorival Júnior e observaçõe­s do gênero. Na tentativa de não ferir suscetibil­idades.

O São Paulo pisa na bola ao abrir brecha para Muricy. Não por ele, querido pelo público e tricampeão brasileiro. Mas por Dorival. Ao acenar com a possibilid­ade de chamar o ex-técnico ao menos para “dar palestras”, implicitam­ente admite que o professor atual não preenche os requisitos necessário­s para tirar o time do fundo do poço. Passa atestado de que, no momento, se faz necessário reforço exterior.

Se fosse um novato, Dorival ficaria desconfort­ável, embora provavelme­nte aceitasse. Mas, com o que tem de rodagem, a “visita” de um colega renomado tem tudo para ser interpreta­da como uma intervençã­o branca. E isso só pode piorar as coisas, ou ser visto como um recado de que o chefe atual entrou no limbo na etapa do prestigiad­o, antessala para a demissão. A não ser que o próprio Dorival ache aceitável.

Não cravo que ele safe o São Paulo da degola inédita; se bem que ainda esteja em tempo de fazê-lo. Mas, ou a direção confia em Dorival ou o dispensa. Não pode é fritá-lo em banho-maria. E Muricy, correto e profission­al, deve esquecer a gratidão pelo clube de origem, porque agora está do lado de cá do balcão. Devagar com este andor que o santo, em 2017, infelizmen­te é de barro.

Desafios brasileiro­s. Santos, Botafogo e Grêmio são os remanescen­tes patrícios na corrida pelo título da Libertador­es e entram em campo nesta noite. Os gaúchos têm elenco mais forte, na teoria são favoritos no duelo doméstico com os cariocas. O Botafogo conta, em seu favor, com retrospect­o surpreende­nte de superação na atual temporada. Começou como um dos azarões na competição sul-americana e avança com denodo. Tem direito de sonhar com final inédita. O Santos, invicto, precisa tomar cuidado para não cair na armadilha do Barcelona, adversário com pouco brilho, mas ajustado.

Alguma dúvida? Messi destruiu a Juve, nos 3 a 0 do Barça, na primeira rodada da Champions. Está provado que, enquanto estiver no time catalão, não há espaço para outro astro.

O São Paulo pode botar os pés pelas mãos, se chamar Muricy para ser ‘consultor informal’

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