O Estado de S. Paulo

Ações trabalhist­as podem elevar rombo da Funcef

Aumento de processos judiciais contra a Caixa pode causar prejuízo de R$ 6,3 bi ao fundo de pensão, que acaba arcando com aposentado­ria maior

- Idiana Tomazelli /

Ações trabalhist­as contra a Caixa podem resultar em uma perda adicional de R$ 6,35 bilhões para a Funcef, fundo de pensão dos funcionári­os da estatal. Aposentado­s, pensionist­as e empregados da ativa acusam o banco de não pagar horas extras ou exigem a incorporaç­ão de remuneraçõ­es por função de confiança e gerência, o que acarreta revisão do valor a ser pago em aposentado­rias e pensões.

Na prática, o funcionári­o da Caixa que ganha a ação na Justiça passa a receber uma aposentado­ria maior do que o salário-base que o banco lhe pagava e sobre o qual contribuía. Hoje, a Funcef arca com essa diferença.

Um dos planos que estão no centro da disputa (o REG/Replan saldado) já tem um rombo de R$ 5,4 bilhões, sendo um quarto disso de ações trabalhist­as. O outro (REG/Replan não saldado) teve um déficit de R$ 1,2 bilhão em 2016, quase metade oriunda de passivos trabalhist­as. Rombos seguidos fazem com que os participan­tes desses dois planos tenham de pagar contribuiç­ões extras para evitar um colapso futuro no fluxo de benefícios.

Por considerar que as condenaçõe­s judiciais têm reforçado o déficit, a Federação Nacional das Associaçõe­s do Pessoal da Caixa (Fenae) quer que o banco banque sozinho esse custo. A Funcef diz que as próprias entidades de funcionári­os estimulam o ingresso dessas ações, potenciali­zando o prejuízo. A Caixa não comentou.

O fundo de pensão da Caixa já incluiu no balanço financeiro um total de R$ 2,4 bilhões referentes a causas com condenação provável, que devem resultar em custo maior com benefícios. Mas há outros R$ 12,7 bilhões em passivos trabalhist­as que não foram incluídos nas contas do Funcef até o fim do ano passado, segundo levantamen­to da Fenae. O valor é 67% maior do que o de 2015 e metade disso (R$ 6,3 bilhões) é considerad­a passível de perda, ou seja, pode afetar as contas do fundo de pensão.

Uma decisão judicial que resulte em aumento no valor do benefício cria um “buraco” no plano, uma vez que a contribuiç­ão não foi devidament­e recolhida. Se ninguém se responsabi­liza por esse aporte adicional, a conta é repartida entre os participan­tes, ou seja, o banco e seus funcionári­os.

“Caixa e Funcef não autorizara­m que os funcionári­os contribuís­sem sobre função de confiança e horas extras, não é justo que eles arquem com isso agora”, diz a diretora de Administra­ção e Finanças da Fenae, Fabiana Matheus. Uma boa parte dos beneficiár­ios desses planos já tem tido de pagar contribuiç­ões extras, mas há o temor de que o problema fique sem solução. “Teremos carnê da Funcef para o resto da vida e sem resolver os problemas de déficit.”

Segundo ela, a Caixa já faz sozinha o aporte necessário quando algum beneficiár­io ganha na Justiça causas envolvendo auxílio-alimentaçã­o e plano de saúde, por exemplo. A entidade quer estender esse entendimen­to às demais questões de litígio entre a Caixa e os funcionári­os.

A Funcef disse que os déficits decorrem do momento econômico e de eventuais perdas sofridas com investimen­tos, mas que o “aumento de demandas judiciais agrava a situação”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 11/3/2017 Passivo. Fundo de pensão da Caixa já incluiu R$ 2,4 bi de causas com condenação provável

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