O Estado de S. Paulo

Novo e flexível ensino médio

Mudança define aumento da carga horária para cinco horas por dia e 40% da grade escolhida pelo próprio estudante

- Tulio Kruse Gustavo Zucchi ESPECIAIS PARA O ESTADO

8,1 mi é o número de matrículas no ensino médio no Brasil

A maior transforma­ção na educação básica está prestes a começar. O ensino médio, atualmente com 13 disciplina­s obrigatóri­as, passará a ter um currículo flexível e deixará quase metade da carga horária à escolha do aluno. No fim da reforma proposta pelo Ministério da Educação (MEC), as escolas deverão ter aumentado a carga horária mínima de 800 para 1 mil horas anuais (média de quatro para cinco horas por dia) e oferecer disciplina­s opcionais relacionad­as a percursos escolhidos pelos alunos, o que pode incluir integração com o técnico.

“O ensino médio não responde às demandas que a sociedade vai fazer para o jovem. O aluno mais pobre não tem outras oportunida­des (além da escola

pública). Então é fundamenta­l essa mudança”, afirmou Priscila Cruz, do Movimento Todos Pela Educação, em fórum organizado pelo Estado para debater o tema. “Sou de uma geração que achava que ensino médio é isso mesmo. Quando a gente põe a cabeça para fora, percebe que só o Brasil tem esse sistema.” Com a mudança, os alunos poderão compor 40% da grade com um currículo complement­ar. A lei que reformou o ensino médio fala em cinco itinerário­s formativos: Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino Profission­al. Redes públicas e colégios particular­es poderão desdobrá-los em trajetos que combinem matérias de diferentes percursos. As escolas, no entanto, só são obrigadas a oferecer um itinerário. Fica a critério de cada colégio ofertar mais de uma opção de percurso aos estudantes.

Aprovada em fevereiro, a reforma estabelece­u alguns prazos. Mas, segundo o MEC, antes de 2020 o currículo flexível não será uma realidade nas escolas. As instituiçõ­es têm até 2022 para cumprir as cinco horas de aula por dia. O governo também promete fomentar a educação integral nos Estados para levá-la à metade da rede pública em até dez anos.

Outras definições ainda dependem da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que definirá os conteúdos obrigatóri­os. Como a reforma é abrangente e tem diversos pontos a serem estabeleci­dos, a mudança suscita muitas dúvidas – algumas estão nesta e nas próximas páginas; respondida­s com base em informaçõe­s do MEC.

“Não podemos olhar a reforma sem olhar para base”, disse Ilona Becskeházy, pesquisado­ra e consultora de Políticas Educaciona­is, durante o evento no jornal. “A reforma só tem chance de ter sucesso do ponto de vista do aluno e da justiça social, se ele chegar ao ensino médio dominando o que está proposto na base curricular.”

Fraco. O ensino médio é considerad­o a etapa mais problemáti­ca da educação básica. Há seis anos os resultados do Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb) estão estagnados na nota 3,7, de um total de 10. Dados levantados pelo Todos Pela Educação, com base em avaliações do MEC, mostram que, ao fim do médio, 90% dos alunos não têm desempenho adequado em Matemática e 78% em Português.

Cerca de 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos está fora da escola, por motivos como trabalho, gravidez na adolescênc­ia e desinteres­se, segundo estudo do Instituto Unibanco com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). “De 100 jovens do ensino fundamenta­l, só 65 chegam ao médio e só 7 vão para faculdade”, disse Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco, no evento no jornal.

 ??  ?? Base. Ainda não estão definidos conteúdos obrigatóri­os
Base. Ainda não estão definidos conteúdos obrigatóri­os

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil