‘Toda escola pode criar áreas porque tem professores’
Para secretária do MEC, não há dificuldade em oferecer itinerários que usam disciplinas já obrigatórias e desafio está no ensino técnico
Uma das principais mentes por trás da reforma do ensino médio, a secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro, quer que escolas públicas e particulares sejam capazes de criar especializações inovadoras. Ela afirma que os colégios não terão dificuldades para criar itinerários em áreas relacionadas às disciplinas já obrigatórias. O maior desafio, para ela, será oferecer o ensino técnico a mais alunos.
Ao não exigir que a escola ofereça todos os itinerários, a reforma não vai promover distorção? Não. Os professores de ensino médio existem, estão na escola, dão aula de todas as disciplinas obrigatórias, fora os temas transversais. Todas as escolas podem oferecer a ênfase nas áreas porque já têm os professores. O difícil é a articulação da formação acadêmica com a profissional. A formação geral vai ser igual para todos.
A escola não vai precisar abrir mão de ter um itinerário das áreas do currículo obrigatório? Não, os professores estão lá. Tem aula de Filosofia, Geografia, Química, Física, Sociologia. A escola organiza o currículo para a parte que é comum e obrigatória conforme a base. A
parte diversificada ela vai definir. A coordenação pedagógica pode estabelecer onde quer inovar, se quer oferecer um aprofundamento em História, Arte, Literatura, Língua Portuguesa e Linguagens Digitais, por exemplo. A dificuldade é oferecer um curso técnico.
Por quê? Uma coisa é você dizer que a maioria das escolas tem condições de oferecer um curso técnico em Informática, Gestão de Empresas, Secretariado ou Administração. É mais fácil. O que não se consegue fazer é oferecer o curso técnico especializado, que requer laboratórios e profissionais da área. Aí a escola não vai conseguir, e não é isso que se espera. Ela terá de se aliar com o Sistema S (entidades como Senai e Sesi), cursos técnicos públicos e privados.
Em que estágio está a BNCC? Tivemos reuniões com membros da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação). Eles querem concluir a etapa de análise e aprovação da base de educação fundamental e infantil. Depois, querem receber a do ensino médio. Nós concordamos.
Como a BNCC do fundamental conversa com a reforma? A base é uma só, tem total continuidade. Tanto é que partimos da versão dois da base para desenhar as competências e as habilidades que os alunos devem aprender e desenvolver ao longo de toda a escolaridade. Ela começa no infantil e vai até o final do ensino médio. A diferença é que a nova base do fundamental puxa a régua para cima. Alguns conteúdos de Língua Portuguesa e algumas expectativas de aprendizagem que estavam previstas para o 1.º ano do médio, hoje estão previstas para o 8.º e 9.º do fundamental. Espera-se que o aluno
tenha um currículo melhor contextualizado na sua região para que chegue mais preparado. O Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) revela que os alunos do médio têm, na média, o mesmo resultado que os do 9.º ano. O ensino médio não está acrescentando nada ao que ele já sabia. E muitas vezes está até piorando.
O aluno não avança por problema de currículo? Ou formação de professores e infraestrutura? Tudo junto. O aluno que não for bem alfabetizado no ensino fundamental, nos anos iniciais, terá muita dificuldade de continuar aprendendo. Então já vai sair do fundamental com muita dificuldade para ter um desempenho melhor. (Com a
nova base curricular) espera-se que o aluno que sair do 9.º ano esteja melhor preparado. As competências levarão a definições de padrões mais elevados. E é isso que a gente precisa porque o Brasil está mal.
As competências (da base) levarão a padrões mais elevados. É isso que a gente precisa porque o Brasil está mal