O Estado de S. Paulo

Era uma vez no futebol

- MARÍLIA RUIZ E-MAIL: MARILIA.RUIZ@ESTADAO.COM FACEBOOK: FACEBOOK.COM/MARILIARUI­Z TWITTER: TWITER.COM/MARILIARUI­Z

Ugo Giorgetti retratou a relação absurda entre organizado­s e clubes em seu genial Boleiros – Era Uma Vez no Futebol, filme de 1998. Para mau entendedor, a cena dos fanáticos corintiano­s reunidos com o médico do time para discutir a contusão de um jogador é bizarra e caricata. Para quem passa longe das notícias dos clubes, pode parecer ridícula a possibilid­ade de torcedores organizado­s assistirem a treinos tal qual fossem da comissão técnica. Para quem lê sobre as cifras milionária­s envolvidas, seria caricato demais que torcedores tivessem o direito de cobrar empenho (coercitiva­mente) dos jogadores.

Infelizmen­te, não era, não é e, aparenteme­nte, continuará não sendo nesta várzea institucio­nalizada que é a administra­ção dos clubes no Brasil.

O assunto de hoje é a inacreditá­vel reunião de um bando de torcedores organizado­s, jogadores, comissão técnica e diretores ontem no CT do São Paulo. As imagens da chegada dos torcedores são assustador­as (recomendo assistir longe da presença de menores). As declaraçõe­s feitas antes da tal reunião são surreais. Aliás, o presidente da principal organizada do time deu entrevista, em frente ao CT do clube, colocando as suas condições! Isso mesmo: enquanto o presidente do São Paulo segue em silêncio constrange­dor e ensurdeced­or, o presidente da torcida organizada falou e deu as suas condições. Repetindo, as suas CONDIÇÕES!

Henrique “Baby” Gomes de Lima não atenuou o discurso para dizer que queria saber o que estava acontecend­o dentro do CT, qual era o problema entre os jogadores e que perguntari­a quem tinha coragem para jogar ou não – os covardes seriam convidados a sair. Chegou a citar família e filhos dos atletas!

Só para dar mais cores à cena psicodélic­a, “Baby”, ontem convidado a falar com os jogadores, é um dos 12 torcedores que foram condenados no ano passado a indenizar o São Paulo pelos danos causados no CT depois de uma invasão para protestos e agressões. A mesma decisão do juiz Ulisses Augusto Pascolatti Júnior, de 26 de setembro de 2016, também determinou que ele e outros condenados não poderiam sair da cidade, não poderiam assistir a jogos do São Paulo e não poderiam se aproximar do Morumbi ou do CT. Por fim, a decisão proibia os condenados a manterem qualquer tipo de contato com funcionári­os, jogadores ou dirigentes do clube sob pena de prisão. Ontem, menos de um ano depois, esse cidadão e seus pares da mesma e de outra organizada, negociaram com a atual diretoria e entraram pela porta da frente do CT para

As relações promíscuas com as organizada­s são antigas e malignas

impor as suas demandas em reunião com jogadores, comissão técnica e ‘aspones’ do presidente Carlos Augusto Barros e Silva, que levou seu escudo Raí para o tenso e bizarro encontro.

Não há chance dentro do mundo do razoável (não estou exagerando e citando o mundo profission­al) desta cretinice estar certa.

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