O Estado de S. Paulo

Solução caseira

Membro da família Batista pode assumir JBS

- Fernando Scheller Renata Agostini

Incomodado­s com a postura beligerant­e do Banco Nacional do Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), os Batistas estão dispostos a entrar em rota de colisão com o banco e avaliam indicar um nome de dentro da família para substituir Wesley Batista no comando da JBS, segundo relataram três fontes com conhecimen­to do tema ao ‘Estado’. O empresário está preso desde quarta-feira, acusado de usar informação privilegia­da para manipular os mercados de ações e de câmbio e teve pedido de habeas corpus negado ontem.

As conversas sobre como a família deverá se posicionar estão sendo encabeçada­s pelo fundador, José Batista Sobrinho, e pelo seu filho mais velho, José Batista Júnior, ex-presidente da JBS, conhecido como Júnior Friboi e visto como candidato à vaga.

O mais cotado para o posto, porém, é Wesley Filho, presidente da divisão de carne bovina da JBS nos EUA. Filho de Wesley, ele está no negócio desde 2010 e vinha sendo preparado para ocupar um cargo de maior destaque no grupo. Não há decisão final e as discussão continuarã­o ao longo do fim de semana.

Segundo as fontes, colocar alguém da família no cargo seria uma forma de os Batistas sinalizare­m que a empresa tem sim um controlado­r e não cederá a pressões do BNDES. A J&F, holding dos Batistas, tem 42% das ações da JBS, porém exerce o controle de fato da empresa, pelo cargo de presidente e por sempre ter conseguido impor suas decisões no conselho.

Um executivo próximo à família afirmou, sob a condição de anonimato, que o BNDES está correto em dizer que os Batistas são sócios da JBS, mas que se esquece de afirmar que eles são sócios “controlado­res” por meio de um grupo – a J&F – que investe em vários setores. Poder. Dos nove assentos no conselho, dois são do BNDES, sendo que um deles atualmente está vago. O conselheir­o Maurício Luchetti deixou as deliberaçõ­es e o banco estatal corre para definir o substituto. A outra conselheir­a do banco, Claudia Santos, também pediu para sair e fica até 9 de outubro. Os dois decidiram pela saída porque eram votos vencidos nas reuniões. Os demais conselheir­os, mesmo os não ligados à J&F, vinham acompanhan­do o voto da família Batista em 2016 e 2017.

Desta forma, se nada mudar, os Batistas terão facilidade para conduzir ao cargo o nome que desejarem. Wesley Batista, que faz parte do conselho e está preso, pode transferir seu voto a outro conselheir­o, de acordo com uma fonte.

Segundo fontes, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, teve uma reunião na JBS em que ficou acertado que o executivo deixaria o cargo e um novo nome seria procurado em 90 dias. Wesley teria dito, na ocasião, que precisava esperar a conclusão da renegociaç­ão de dívidas com bancos antes de deixar o negócio. Pouco depois, o BNDES entrou na Justiça para destituí-lo do cargo, pedido que foi freado pela Justiça. Ontem, o Tribunal Regional da 3ª Região confirmou decisão de suspender assembleia de acionistas e levar a disputa para arbitragem, como pedira a J&F.

A saída de Wesley acabou ocorrendo somente com sua prisão, o que acelerou a busca por um substituto. Há consenso de que a permanênci­a de Wesley tornouse inviável. A conselheir­a Claudia Santos, do BNDES, havia indicado o nome do executivo Gilberto Tomazoni nesta semana, mas a proposta não foi votada.

Uma das saídas seria esperar que Wesley e Joesley saíssem da prisão. O pedido de habeas corpus foi negado ontem, mas a defesa dos irmãos entrou com novo pedido para a libertação dos empresário­s desta vez no Superior Tribunal de Justiça.

Procurados, o BNDES e a JBS não quiseram se pronunciar.

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LEONARDO BENASSATTO/REUTERS - 13/9/2017 Na prisão. Wesley Batista (foto) e o irmão Joesley tiveram habeas corpus negados ontem

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