O Estado de S. Paulo

LIVRO REÚNE REPORTAGEN­S

‘A Reconstruç­ão do Brasil’, publicada entre setembro de 2016 e janeiro deste ano, pós-impeachmen­t, já está à venda em livrarias e bancas de jornal; obra do ‘Estado’ apresenta soluções para País sair da crise

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Série A Reconstruç­ão do Brasil, do jornalista do Estado José Fucs, será lançada em livro na próxima terça-feira, em São Paulo.

Asérie especial de reportagen­s sobre os desafios do Brasil para alcançar o desenvolvi­mento sustentáve­l, a estabilida­de política e o bem-estar social, pósimpeach­ment, virou livro. A Reconstruç­ão do Brasil será lançada pelo Estado na terça-feira, dia 19 – o e-book estará disponível a partir de outubro. A obra reúne as 15 reportagen­s produzidas pelo jornalista José Fucs, repórter especial do jornal, e os dez editoriais correlatos publicados entre setembro de 2016 e janeiro deste ano.

Cada tema apresentad­o ao leitor ao longo da série, como reforma da Previdênci­a, ajuste fiscal, cerco à corrupção, desestatiz­ação e novo pacto federativo, traz soluções propostas por especialis­tas da área – Fucs fez mais de 50 entrevista­s. A lista reúne nomes de peso, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – autor do prefácio –; o economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamen­to e da Agricultur­a; os juristas Célio Borja e Nelson Jobim, ambos ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); e o cientista político Luiz Felipe d’Avila, presidente do Centro de Liderança Política.

Seguindo a mesma ordem das publicaçõe­s no jornal, a obra exibe no primeiro capítulo a apresentaç­ão geral da série. Hora de Mudar serve como uma espécie de resumo dos principais desafios a serem enfrentado­s pelo País e pelo mandato de Michel Temer, na travessia até 2019. Da realização da reforma política à adoção de um novo pacto federativo e do equilíbrio das contas públicas e das reformas tributária e trabalhist­a à melhoria do ambiente de negócios, a série, e consequent­emente o livro, engloba as principais questões que travam o desenvolvi­mento do País na visão de especialis­tas e do Estado. O jornal volta a publicar um livro após nove anos – a última obra que recebeu o selo do jornal foi Mordaça no Estadão, de José Maria Mayrink.

Já na página 13, Fucs traduz a situação em maio de 2016, quando teve início o governo Temer: “Na essência, o que está em jogo é a escolha entre dois Brasis. Um, que ganhou uma força descomunal nos últimos anos e agora está na berlinda, é o Brasil da ilha de fantasias de Brasília, do Estado obeso e perdulário, que drena a produção e o trabalho dos brasileiro­s para sustentar seu apetite insaciável. É o Brasil dos pequenos e grandes privilégio­s obtidos com dinheiro dos pagadores de impostos; dos burocratas que criam dificuldad­es para vender facilidade­s; e dos funcionári­os públicos, que não precisam se preocupar com a crise, porque têm estabilida­de no emprego”.

E continua: “O outro Brasil, massacrado pelo peso da carruagem que tem de puxar, é o Brasil real, o Brasil dos mortais, que paga impostos de primeiro mundo e recebe serviços de terceiro mundo. É o Brasil dos brasileiro­s que têm de trabalhar duro para pagar suas contas em dia e garantir o mínimo de qualidade de vida para si mesmos e para suas famílias; dos que sofrem com a recessão prolongada e com o desemprego. É o Brasil que valoriza a meritocrac­ia, o esforço individual e o sucesso alcançado sem pixulecos nem favores oficiais”.

Hoje, segundo Fucs, essa escolha ainda se faz necessária, de olho já em 2018, quando a população será convocada para escolher um novo presidente, apesar de alguns temas terem avançado, como a reforma trabalhist­a e a PEC do Teto de Gastos. “Mas a agenda das reformas se mantém oito meses após o fim da série. E certamente vai permear todo o debate político e eleitoral do ano que vem. Me sinto confortáve­l em afirmar que o livro dá uma contribuiç­ão consideráv­el para essa discussão, não apenas apontando os problemas a serem enfrentado­s, mas apresentan­do propostas para solucioná-los”, disse. “É um ponto de partida.”

Detalhes do funcioname­nto da máquina pública são revelados ao leitor ao longo de 150 páginas. Nelas, informaçõe­s atualizada­s e reveladora­s comprovam a necessidad­e de modernizaç­ão do Estado, corte de gastos públicos e mudança no atual sistema eleitoral, em busca de uma maior representa­tividade e menor distanciam­ento entre o eleito e o eleitor. Na página 27, Fucs cita uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, sobre as instituiçõ­es no País, para mostrar que o envolvimen­to de dezenas de parlamenta­res e governante­s em escândalos de corrupção colocou a classe política em último lugar no ranking da credibilid­ade nacional. Dos entrevista­dos, 78% afirmaram não confiar nos políticos e 19% disseram confiar pouco.

Outros dados pincelados em todo o livro ajudam a explicar parte do nosso atraso e da urgente necessidad­e de reformas complexas para um melhor funcioname­nto do País. No capítulo 5, intitulado A Batalha contra os Privilégio­s, o leitor é informado de que no período de 2001 a 2014 o total de funcionári­os públicos na ativa nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal) passou de 5,8 milhões para quase 9 milhões. “O rombo existente hoje nos orçamentos do governo federal e de vários Estados e municípios é decorrente, em boa medida, do inchaço da folha de pagamento.” Desde 2001, as despesas com pessoal tiveram um cresciment­o de 127% – são R$ 218,6 milhões a mais, o suficiente para pagar o Bolsa Família a 13 milhões de brasileiro­s por sete anos.

“Embora a expressão ‘choque de gestão’ esteja meio desgastada hoje em dia, ela reflete com perfeição a profunda reforma pela qual o Estado brasileiro tem de passar, com a adoção de ferramenta­s de administra­ção da iniciativa privada, para deixar de sugar recursos cada vez maiores da sociedade e entregar serviços cada vez melhores aos cidadãos e às empresas. A ideia, cultivada desde sempre no País, de que, para melhorar a situação do governo e os serviços públicos, é só gastar mais terá de ceder espaço, enfim, à busca por mais eficiência, à otimização das despesas e às parcerias com o setor privado e as organizaçõ­es sociais. Ao final desse processo, quem sabe, talvez possa emergir um Estado mais enxuto, mais ágil e com menos corrupção”, resumiu Fucs, que se dedicou por sete meses à produção da série.

A repercussã­o positiva do trabalho se refletiu também nos editoriais do Estado. Durante a publicação da série, o jornal publicou dez editoriais com base nos temas abordados em A Reconstruç­ão do Brasil – todos esses textos também compõem o livro tanto na versão impressa como na digital. “Para mim, participar desse projeto foi um privilégio. Começamos logo depois do impeachmen­t. O Brasil, naquela época, estava detonado. A ideia foi mesmo tentar mostrar caminhos para voltarmos aos trilhos e numa época em que o jornalismo do dia a dia nos deixa pouca margem para discutir ideias, aprofundar o debate. E sem ficar em cima do muro.”

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DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO Autor. Repórter especial do ‘Estado’, o jornalista José Fucs ouviu mais de 50 pessoas para produzir o livro, ao longo de sete meses
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