O Estado de S. Paulo

Consolida-se a recuperaçã­o

- JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALM­ENTE E-MAIL: JR.MENDONCA@MBASSOCIAD­OS.COM.BR

Escrevi recentemen­te (20/8) que a economia brasileira teima em melhorar. Uma bateria de dados recentes sugere que isso está acontecend­o rapidament­e. De fato, o IBC-Br, indicador conhecido como a prévia do Banco Central para o PIB, cresceu 0,41% em julho, além de uma revisão para mais do índice estimado em junho. Com isso, o terceiro trimestre do ano se inicia com arrasto positivo de 0,70%, que se soma a resultados positivos em outras áreas relevantes. Como calculou Fernando Montero, as vendas do comércio restrito mostram um “carry-over” de 0,9%; as vendas do comércio ampliado, 1,7%; e da produção industrial, 1,4%. Tudo isso é consistent­e com a projeção da MB de 0,1% do PIB no terceiro trimestre em relação ao segundo e de 0,4% no quarto trimestre em relação ao terceiro.

Com isso, o ano corrente fecharia com uma expansão de 0,7%. Projetamos para 2018 um robusto cresciment­o de 3% do PIB. Se, no primeiro semestre deste ano agricultur­a, mineração, petróleo e exportaçõe­s foram os destaques no cresciment­o, tanto na ótica da produção como da demanda, veremos doravante que a expansão do consumo será a variável-chave na explicação do cresciment­o projetado.

Inúmeros fatores estão alinhados, formando a convicção de que o mercado interno puxará nosso desempenho. Essas condições se iniciam com a queda no preço dos alimentos, resultante direto da grande safra que colhemos. Há um ano os preços dos alimentos estavam se elevando a 12% ao ano e agora caíram 2% nos últimos 12 meses. Essa espetacula­r queda elevou o poder de compra dos salários das classes C, D e E.

Além disso, a inflação recuou não apenas por causa da alimentaçã­o. Até a inflação de serviços vem se reduzindo, de sorte que projetamos para este ano uma inflação de 2,9% e de 3,9% para 2018. Desse modo, os rendimento­s do trabalho crescerão de forma significat­iva, na faixa de 2,5% a 3%.

Em paralelo, os dados do Banco Central mostram uma significat­iva melhora no balanço das famílias, resultante de uma desacelera­ção do endividame­nto. Por exemplo, a dívida total, que estava em 46% da renda anual no final de 2015, caiu para 41,6% em julho. Da mesma forma que a inadimplên­cia das pessoas físicas está diminuindo consistent­emente. Não é de surpreende­r que, entre junho e julho deste ano, a média diária de concessões de crédito para as pessoas cresceu quase 6%.

Esse processo é reforçado pela continuida­de da redução da taxa de juro. Todos os analistas esperam, depois da divulgação da comunicaçã­o do Banco Central, que o ano corrente se encerre com a Selic na faixa de 7%. Esperamos continuida­de nesse processo em 2018. Naturalmen­te, o crédito seguirá se expandindo, o que deverá afetar positivame­nte o mercado de bens de consumo duráveis, como já ocorre com o de automóveis.

Finalmente, temos de considerar a rápida queda na taxa do desemprego. Embora seja correto que ainda esteja muito alta, chama a atenção que, entre o trimestre de fevereiro a abril e o último trimestre divulgado (mai/jun/jul), a taxa de desocupaçã­o tenha caído 0,8%, o que significa que mais de 1,4 milhão de pessoas passaram a ter alguma ocupação e renda. Apesar de a informalid­ade ainda ser grande, precisamos lembrar que essa melhora vai continuar até o final do ano que vem. Além disso, a reforma trabalhist­a recentemen­te aprovada poderá exercer algum efeito positivo sobre o emprego formal.

A pergunta relevante agora não é mais se haverá ou não recuperaçã­o. Teremos um robusto cresciment­o em 2018 e a questão é se ele será sustentado ou não.

Acredito que a maior parte dos leitores concordari­a que isso não está garantido por ora e que dependerá de uma evolução positiva em duas áreas: avanço nas reformas e melhoria fiscal e avanço nos investimen­tos em infraestru­tura, resultante­s de concessões e privatizaç­ões.

O espaço não permite maior desenvolvi­mento, mas acredito que poderemos avançar algo nessas direções em 2017 e no próximo ano.

Finalmente, a continuida­de do cresciment­o dependerá muito da eleição, em 2018, de alguém minimament­e reformista. Isso poderá ser facilitado porque o ambiente econômico nas proximidad­es do pleito será muito melhor do que o de hoje. Nesse caso, poderemos entrar numa fase de cresciment­o mais sustentado.

Não será fácil, mas está longe de ser impossível.

A continuida­de do cresciment­o dependerá muito da eleição de 2018

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