Tom Cruise em fase ‘Lobo de Wall Street’
O astro redime-se do fracasso de ‘A Múmia’ com outro longa de pegada mais realista, na linha de ‘Narcos’, fotografado pelo grande Charlone
Há muito tempo um blockbuster com Tom Cruise não derrapava tão feio na bilheteria. A Múmia, merecidamente, foi um dos grandes fiascos de Hollywood neste ano – não conseguiu se salvar nem no infalível mercado chinês, onde Tom reina como astro estrangeiro. Há muito tempo também não se via o astro em dois filmes no mesmo ano. Se a bilheteria não funcionou, que tal o Oscar? Sem descuidar da ação, Feito na América aposta num relato mais crítico. Talvez não vá para os prêmios da Academia, mas está repercutindo
Tom Cruise em papel dramático. No site Rotten Tomatoes, o longa de Doug Liman teve 89% de aprovação, contra apenas 16% para A Múmia. Liman é o diretor de A Identidade Bourne e Sr. e Sra. Smith. Já dirigira Cruise em No Limite do Amanhã. Liman e Cruise entram em clima de Narcos. A história real é de um piloto que foi cooptado pela CIA para levar armas para os contras que combatiam os sandinistas. O avião ia cheio na ida, voltava vazio para os EUA. Nosso piloto foi cooptado de novo – por Pablo Escobar. Os aviões voltavam cheios de drogas.
A história é absurda. Embora altamente dramática – e até trágica –, não carece de humor. Cruise – seu personagem – olha para a câmera e adverte o público. “Agora, sim, a coisa vai ficar absurda.” Se a ‘América’ é terra de empreendedores, ele é o próprio ‘American Made’. Ganha rios de dinheiro. Você viu, e provavelmente se indignou com as malas cheias de dinheiro no apartamento de Geddel Vieira Lima, em Salvador. O piloto agente duplo não tem mais onde guardar dinheiro. A pequena cidade em que vive tem mais bancos que a 5.ª Avenida, em Nova York – só para armazenar tanto dinheiro, fora o que enche gavetas e armários em casa. Um dia, essa orgia termina. Do governo, você pode até tirar dinheiro, mas com o tráfico – Escobar – ninguém brinca.
Há um lado Lobo de Wall Street em Feito na América. Como no longa de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, todos os excessos são permitidos. O que faz a diferença é a tessitura da imagem. A fotografia é assinada por César Charlone. Cidade de Deus
já inspirou Chamas da Vingança,
de Tony Scott. Inspira agora Doug Liman e Feito na América.
Um registro realista, quase documental, que a cor, em toda a sua cafonice, estoura. Senão Tom Cruise, pelo menos Charlone merece ir para o Oscar.