O Estado de S. Paulo

Tom Cruise em fase ‘Lobo de Wall Street’

O astro redime-se do fracasso de ‘A Múmia’ com outro longa de pegada mais realista, na linha de ‘Narcos’, fotografad­o pelo grande Charlone

- Luiz Carlos Merten

Há muito tempo um blockbuste­r com Tom Cruise não derrapava tão feio na bilheteria. A Múmia, merecidame­nte, foi um dos grandes fiascos de Hollywood neste ano – não conseguiu se salvar nem no infalível mercado chinês, onde Tom reina como astro estrangeir­o. Há muito tempo também não se via o astro em dois filmes no mesmo ano. Se a bilheteria não funcionou, que tal o Oscar? Sem descuidar da ação, Feito na América aposta num relato mais crítico. Talvez não vá para os prêmios da Academia, mas está repercutin­do

Tom Cruise em papel dramático. No site Rotten Tomatoes, o longa de Doug Liman teve 89% de aprovação, contra apenas 16% para A Múmia. Liman é o diretor de A Identidade Bourne e Sr. e Sra. Smith. Já dirigira Cruise em No Limite do Amanhã. Liman e Cruise entram em clima de Narcos. A história real é de um piloto que foi cooptado pela CIA para levar armas para os contras que combatiam os sandinista­s. O avião ia cheio na ida, voltava vazio para os EUA. Nosso piloto foi cooptado de novo – por Pablo Escobar. Os aviões voltavam cheios de drogas.

A história é absurda. Embora altamente dramática – e até trágica –, não carece de humor. Cruise – seu personagem – olha para a câmera e adverte o público. “Agora, sim, a coisa vai ficar absurda.” Se a ‘América’ é terra de empreended­ores, ele é o próprio ‘American Made’. Ganha rios de dinheiro. Você viu, e provavelme­nte se indignou com as malas cheias de dinheiro no apartament­o de Geddel Vieira Lima, em Salvador. O piloto agente duplo não tem mais onde guardar dinheiro. A pequena cidade em que vive tem mais bancos que a 5.ª Avenida, em Nova York – só para armazenar tanto dinheiro, fora o que enche gavetas e armários em casa. Um dia, essa orgia termina. Do governo, você pode até tirar dinheiro, mas com o tráfico – Escobar – ninguém brinca.

Há um lado Lobo de Wall Street em Feito na América. Como no longa de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, todos os excessos são permitidos. O que faz a diferença é a tessitura da imagem. A fotografia é assinada por César Charlone. Cidade de Deus

já inspirou Chamas da Vingança,

de Tony Scott. Inspira agora Doug Liman e Feito na América.

Um registro realista, quase documental, que a cor, em toda a sua cafonice, estoura. Senão Tom Cruise, pelo menos Charlone merece ir para o Oscar.

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UNIVERSAL PICTURES O astro Cruise. Aviões a serviço da CIA e do tráfico de drogas

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