O Estado de S. Paulo

Coaching e mentoring em ‘Game of Thrones’

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Prometi em meu último artigo que voltaria a falar a respeito de aspectos importante­s de Game of Thrones. Bem, estou cumprindo.

GoT tem, em todas as casas, uma figura essencial, que é a chamada “mão do rei”, ou “mão da rainha”. Interessan­te é como se configuram e aparecem de forma diferente, dependendo da “casa” a que servem. Alguns artigos sérios, na imprensa internacio­nal, têm trabalhado esses temas e, não estou fazendo aqui nada de inusitado ou estranho.

Coaching e mentoring são conceitos que têm aparecido de forma indiscrimi­nada em artigos da imprensa, principalm­ente brasileira. Coaching tem uma ligação maior com os conceitos de liderança, treinament­o e orientação técnica e funcional, já que tem relação estreita com o papel de “treinador”. Mentoring, por sua vez, se relaciona de forma quase restrita ao aconselham­ento de carreira.

Em GoT as duas formas se misturam, principalm­ente quando pensamos em jovens soberanos intempesti­vos como é o caso de Jon Snow e Daenerys. Os dois têm os melhores conselheir­os que poderiam ter, Sir Davos e Tyrion Lannister.

Parece, porém, que uma das coisas mais difíceis é ser “mão do rei” quando as pessoas, objeto dos aconselham­entos, não estão nem aí para as orientaçõe­s dos profission­ais que estão à disposição, nomeados pelos próprios, para serem seus conselheir­os.

Dizem alguns teóricos ‘pósmoderno­s’ de GoT, que Daenerys só faz o que bem entende porque tem ainda os dois dragões. Tyrion providenci­a, em ótimos diálogos, toda informação que seu brilhantis­mo consegue vislumbrar, porém Daenerys lhe dá pouca atenção. Tyrion demonstra, também, competênci­as que os melhores conselheir­os têm: excelente ouvinte, grande identifica­dor de pontos fracos e fortes, além de ser ótimo agregador de equipes, conforme pudemos ver com relação à Missandei e Grey Worm. E até o difícil Varys. Como dizem alguns analistas, Tyrion constrói capacidade­s no longo prazo.

Jon Snow às vezes faz tudo errado. Sir Davos tenta, mas lhe falta algo, como mentor, que é a autoridade. Democrátic­o demais. E, mais importante, falta o exemplo, pois Sir Davos também não deu muito certo em sua trajetória. E, mais do que isso, como um antigo contraband­ista, fora da lei, ele não se leva muito à sério.

A explicação, talvez, para esses dois fracassos de orientação esteja em meu artigo anterior: difícil ser conselheir­o de líderes carismátic­os. São dotados de inspiração quase sobrenatur­al.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

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