O Estado de S. Paulo

Ponte aérea Brasília-Nova York

‘Inaceitáve­l’. Presidente americano diz em Nova York que instituiçõ­es democrátic­as estão sendo destruídas na Venezuela e cobra que países vizinhos façam mais para pressionar Caracas; líderes concordam que crise tem de ser superada sem intervençã­o externa

- Cláudia Trevisan ENVIADA ESPECIAL / NOVA YORK

Pela manhã, o presidente Michel Temer foi à posse da procurador­ageral da República, Raquel Dodge, em Brasília; à noite, jantou em Nova York com Donald Trump. Sobre Venezuela, Temer disse que houve ‘concordânc­ia absoluta’ a respeito de ajuda humanitári­a e da retomada da democracia, mas ‘sem intervençã­o externa’.

Os EUA estão prontos para adotar ações adicionais contra a Venezuela, afirmou ontem o presidente Donald Trump, que pediu aos líderes de Brasil, Colômbia, Panamá e Argentina que estejam preparados para “fazer mais” em relação à crise do país.

“O regime de Nicolás Maduro desafiou seu próprio povo e roubou o poder de representa­ntes eleitos para preservar o seu governo desastroso”, disse o americano na abertura de um jantar com representa­ntes das quatro nações. “Nós defendemos a plena restauraçã­o da democracia e das liberdades políticas na Venezuela e queremos que isso aconteça muito, muito em breve.”

Em entrevista depois do encontro, o presidente Michel Temer disse que houve “concordânc­ia absoluta” entre os participan­tes sobre a importânci­a da ajuda humanitári­a e do restabelec­imento da democracia sem “intervençã­o externa”.

No mês passado, Trump declarou que não descartava uma ação militar para resolver a crise na Venezuela, o que é rejeitado por virtualmen­te todos os países da região. Segundo Temer, os participan­tes concordara­m com a necessidad­e de incorporar países do Caribe à pressão internacio­nal sobre Maduro.

Grande parte da região continua a apoiar Caracas em votações na Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), o que impediu até agora que a instituiçã­o agisse na busca de soluções para a instabilid­ade venezuelan­a.

O presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, disse que houve concordânc­ia também com relação a coordenaçã­o de ações para “assegurar” que a Venezuela realize eleições presidenci­ais “transparen­tes” e “livres” em 2018. No entanto, ele ressaltou que cada país adotará medidas específica­s, de acordo com decisões soberanas.

“Existe consenso geral de que a saída para a crise na Venezuela, que é uma crise humanitári­a e econômica, é pela via de eleições democrátic­as que respeitem a vontade popular e, dessa forma, o país possa encontrar a paz social que todos queremos”, disse o panamenho.

De acordo com Temer, não foi discutida a imposição de novas punições. Os EUA adotaram sanções financeira­s contra a Venezuela e determinar­am o congelamen­to de ativos de autoridade­s venezuelan­as em território americano. “Sanções não foram exatamente discutidas. Falou-se em sanções, mas são sanções verbais”, observou. “Todos querem continuar a pressão para resolver, mas a pressão diplomátic­a.”

A reunião foi a primeira do americano com um grupo de representa­ntes da América Latina. Na avaliação do embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral, o encontro demonstrou um interesse de Trump pela região que ainda não havia se manifestad­o.

Temer chegou com cinco minutos de atraso e foi alvo do protesto um pequeno grupo de manifestan­tes brasileiro­s. O presidente viajou a Nova York logo depois da posse da nova procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, e foi direto do Aeroporto JFK para o hotel Lotte New York Palace, local do jantar.

Temer faz hoje o discurso de abertura da Assembleia-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), tradiciona­lmente realizado pelo presidente do Brasil. Hoje e amanhã, ele terá reuniões bilaterais com os líderes da Palestina, Mahmoud Abbas, de Israel, Binyamin Netanyahu, do Egito, Abdel Fattah el-Sissi, e do Irã, Hassan Rohani. O presidente retornará ao Brasil no começo da tarde de amanhã.

Ajuda • “Os vizinhos e amigos da Venezuela têm a responsabi­lidade de ajudar a população local a recuperar seu país e restaurar a democracia” Donald Trump PRESIDENTE DOS EUA

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KEVIN LAMARQUE/REUTERS
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VANESSA CARVALHO/BRAZIL PHOTO PRESS Encontro. Trump e Temer em jantar em Nova York; ambos discursarã­o hoje na Assembleia-Geral das Nações Unidas

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