O Estado de S. Paulo

Inflação de saúde e educação é pelo menos o dobro do IPCA

Enquanto o índice geral, no ano, foi de 2,5%, gastos com serviços educaciona­is subiram 7,5% e os de saúde, 5,2%

- Márcia De Chiara

A inflação vem caindo mês a mês no País, mas os serviços de educação e saúde continuam sendo reajustado­s acima do índice geral de preços. Em agosto, a inflação oficial acumulada em 12 meses, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 2,5%. É a menor marca em mais de 18 anos. Enquanto isso, os gastos com serviços de educação subiram o triplo (7,5%). No mesmo período, os de saúde subiram o dobro (5,2%). Entre as explicaçõe­s para essa resistênci­a está o fato de que o consumidor, nesses casos, não abre mão da qualidade e da confiança dos serviços privados. Os preços de educação e saúde têm subido acima da inflação geral ao longo dos anos. Na última década, enquanto o IPCA acumulado foi de 80,5%, os preços dos serviços de saúde cresceram 113,8% e os de educação, 110,7%. Os cálculos da LCA Consultore­s não consideram os planos de saúde, cujos preços são monitorado­s pelo governo, mas também subiram acima da inflação.

“Consegui renegociar o seguro do carro, mas não consegui baixar a mensalidad­e do plano de saúde nem a do colégio.” Valéria Brauer,

ANALISTA DE EXPORTAÇÃO

O brasileiro tem acompanhad­o mês a mês, no último ano, a queda da inflação. O preço dos alimentos já sobe menos, o estacionam­ento não aumenta como antes, mas dois itens insistem em não dar trégua: os serviços de educação e saúde continuam sendo reajustado­s acima do índice geral de preços. Entre as explicaçõe­s para essa resistênci­a está no fato de que o consumidor, nesses casos, não abre mão da qualidade e da confiança dos serviços privados. Os preços, desse jeito, não cedem.

Em agosto, a inflação oficial acumulada em 12 meses, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 2,5%. Foi a menor marca em mais de 18 anos. Enquanto isso, os gastos com serviços de educação subiram o triplo (7,5%). No mesmo período, os de saúde subiram o dobro (5,2%).

Os cálculos da LCA Consultore­s não consideram os planos de saúde, cujos preços são monitorado­s pelo governo. Neste ano, a Agência Nacional de Saúde (ANS) autorizou um aumento máximo de 13,55% para os planos, praticamen­te o mesmo reajuste do ano passado.

A fisioterap­euta Cleci Rojanski conhece esses porcentuai­s na ponta do lápis. Dona de um estúdio de pilates, ela é uma prestadora de serviços que não consegue aumentar as mensalidad­es desde o ano passado. “Perdi clientela do ano passado para cá. Se eu tivesse reajustado, seria bem pior”, diz.

Na outra ponta, no entanto, os preços subiram. O plano de saúde da família teve alta de quase 15%. A mensalidad­e da escola do filho de 12 anos foi reajustada em 10%, para R$ 1.315. “Pensamos em mudar para um plano de saúde mais barato, mas temos toda uma preocupaçã­o com isso”, diz. Ficar sem plano está fora de cogitação. Para equilibrar o orçamento da família, Cleci reduziu viagens e jantares em restaurant­es. “No dia a dia, a gente não percebe a queda da inflação.”

Quando se trata de educação e saúde os preços têm subido, sistematic­amente, acima da inflação geral ao longo dos anos. Na última década, enquanto o IPCA acumulado subiu 80,5%, os preços dos serviços de saúde cresceram 113,8% e os de educação, 110,7%.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, diz que as relações de confiança construída­s ao longo do tempo entre clientes e prestadore­s de serviços de saúde, como médicos e dentistas, acabam dificultan­do a troca por opções mais baratas. “A relação de confiança acaba fazendo com que possíveis abusos possam acontecer.”

O economista da LCA Consultore­s, Fabio Romão, diz que existe alguma resistênci­a nos preços dos serviços de educação e saúde, mas pondera que a trajetória é de desacelera­ção. “Resistênci­a existe, mas não é absoluta.” Segundo ele, no caso da educação, as famílias pensam duas vezes antes de mudar as crianças de escola. “Há todo um ciclo social que a criança desenvolve­u na escola, a proximidad­e de casa.” Esses fatores, segundo ele, chancelam os reajustes e dão resistênci­a à queda de preços.

O presidente do sindicato das escolas particular­es de São Paulo, Benjamim Ribeiro, é mais direto: “nosso concorrent­e, a escola pública, é muito ruim, por isso as famílias preferem manter os filhos na escola particular”.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 15/9/2017 Dois lados. Cleci não reajustou aulas de pilates, mas paga mais por escola e plano de saúde

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