O Estado de S. Paulo

Planalto teme que Geddel feche acordo de delação

Aliados do governo dão como certo que o ex-ministro tente, em breve, acordo de colaboraçã­o premiada com o Ministério Público

- Carla Araújo Tânia Monteiro / BRASÍLIA

O Palácio do Planalto se preocupa hoje mais com a possibilid­ade de o ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso desde o dia 8, fechar um acordo de delação premiada do que com a nova denúncia oferecida pela Procurador­ia-Geral da República na semana passada contra o presidente Michel Temer.

A avaliação de auxiliares próximos a Temer é de que a segunda acusação formal oferecida pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que acusa o presidente de liderar uma organizaçã­o criminosa e de obstruir a Justiça, terá um placar mais favorável que a primeira acusação quando chegar ao plenário da Câmara dos Deputados. Em agosto, quando a Procurador­ia denunciou Temer por corrupção passiva, 263 deputados votaram por barrar o prosseguim­ento da acusação.

Já em relação a Geddel, a avaliação no Planalto é de que a situação é “praticamen­te incontorná­vel” depois que a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em espécie em um apartament­o em Salvador, onde foram identifica­das as impressões digitais do ex-ministro.

Até a primeira prisão do exministro, no dia 3 de julho, baseada em depoimento­s do corretor Lúcio Funaro e de sua mulher, Raquel Pitta, a avaliação era de que seria possível obter sucesso na defesa técnica, uma vez que não existiam provas concretas da tentativa de obstrução da Justiça.

A apreensão do dinheiro, entretanto, segundo os investigad­ores, jogou por terra o discurso da defesa de que as acusações eram versões de delatores interessad­os em benefícios. Os R$ 51 milhões materializ­aram as provas necessária­s para sustentar as afirmações dos colaborado­res. A homologaçã­o da delação de Funaro fortaleceu a tese da acusação contra Geddel.

Além disso, o ex-diretor de Defesa Civil de Salvador Gustavo Pedreira, apontado como homem de confiança de Geddel, cujas impressões digitais também foram encontrada­s no apartament­o, afirmou estar disposto a colaborar com as investigaç­ões. Ele já confirmou ter buscado dinheiro em São Paulo a pedido de Geddel. Não está descartada a possibilid­ade de o ex-ministro ser alvo de outras denúncias.

Distanciam­ento. Geddel, ao lado de Temer, fazia parte do núcleo duro do PMDB, que inclui os atuais ministros e também denunciado­s Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). O Planalto avalia que Geddel é temperamen­tal e emotivo e, por isso, não aguentaria muito tempo na prisão. Essas caracterís­ticas, disse um auxiliar, podem aumentar ainda mais as chances de o ex-ministro fornecer informaçõe­s em troca de benefícios.

Apesar disso, o discurso no governo é de que, se Geddel fechar acordo de colaboraçã­o premiada, não haverá nada de compromete­dor contra o presidente. Ainda assim, a ordem no Planalto tem sido se distanciar ao máximo do ex-ministro. Desde que foram descoberto­s os R$ 51 milhões, os principais interlocut­ores do presidente evitam o assunto ou, quando abordados, dizem que ele não tem relação com o Palácio do Planalto.

Procurada, a defesa de Geddel não havia se manifestad­o até a conclusão desta edição.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-8/9/2017 Detido. Geddel no IML em Brasília após ser preso, no dia 8

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