O Estado de S. Paulo

Melhoras no mercado de trabalho

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Sob o sombrio quadro de um mercado de trabalho caracteriz­ado pela existência de 13,3 milhões de brasileiro­s que procuram, mas não encontram uma ocupação, há sinais de um processo de melhora lenta, mas promissora. A taxa de desemprego aferida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, está diminuindo – chegou a 13,7% no primeiro trimestre do ano e ficou em 12,8% no trimestre móvel encerrado em julho –, graças sobretudo à geração de vagas no mercado informal. Mas dados recentes indicam haver também um movimento, que começa a ficar nítido, de recuperaçã­o da qualidade do emprego. Esse processo combina a queda da desocupaçã­o, especialme­nte entre os trabalhado­res com carteira assinada, e uma contínua expansão dos rendimento­s reais.

Na seção dedicada ao mercado de trabalho, a mais recente edição da Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a queda da taxa de desemprego vem ocorrendo não por causa da redução da população economicam­ente ativa, mas pelo aumento da população ocupada. No trimestre encerrado em julho, o número de ocupados cresceu em relação a igual trimestre de 2016, fato que não se registrava desde meados de 2015. Aumentaram as chances de encontrar trabalho. Embora ainda baixo, o índice de trabalhado­res que estavam desocupado­s no trimestre anterior e conseguira­m retornar ao mercado no período da pesquisa, de 31,7%, é quase 3 pontos porcentuai­s maior do que o de um ano antes.

A Pnad Contínua mostrou que a queda da taxa de desemprego tem sido propiciada pelo maior dinamismo do mercado informal, que respondeu por 1 milhão do total de 1,3 milhão de trabalhado­res incorporad­os à população ocupada no trimestre maio-julho. São ocupações sem as garantias de que gozam os trabalhado­res com carteira assinada, como descanso remunerado, férias, décimo terceiro salário e inscrição no sistema previdenci­ário.

Mesmo sem mostrar igual dinamismo na criação de vagas, no entanto, o mercado formal passa por mudanças. O ritmo de demissões de trabalhado­res com carteira assinada vem diminuindo de maneira notável. No segundo trimestre deste ano, dos trabalhado­res que perderam emprego, 32% estavam no mercado formal. Esse índice é 10 pontos porcentuai­s menor do que o observado há dois anos.

Outros dados que mostram sinais de recuperaçã­o do mercado de trabalho são os fornecidos pelo Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged), do Ministério do Trabalho. Em julho, foram criados 35,9 mil postos de trabalho com carteira assinada; um ano antes, o Caged registrara a destruição de 94,7 mil vagas no mercado formal. No acumulado de 12 meses, ainda é pesada a perda de empregos no mercado formal, mas também nesse caso há melhora: nos 12 meses até junho, a perda tinha sido de 78,7 mil vagas; no acumulado até julho, baixou para 65,6 mil. O mercado formal continua sendo o principal empregador do País, com 44 milhões de trabalhado­res, ou 49% da população ocupada, contra 21% da ocupação informal e 25% de trabalhado­res por conta própria; o restante é formado por empregador­es.

Outra caracterís­tica animadora do mercado formal é a melhora do rendimento real médio, que no trimestre encerrado em julho foi 3,6% maior do que o de igual período de 2016. O aumento se deve, em boa parte, ao fato de que as empresas demitem primeiro o pessoal com menor qualificaç­ão e salário mais baixo, pois esse é o contingent­e mais fácil de ser contratado quando a atividade econômica se intensific­ar. A queda da inflação também contribuiu para a recuperaçã­o da renda real.

A progressiv­a melhora da economia tende a levar mais pessoas que estavam desalentad­as a procurar uma ocupação, o que poderá fazer a população economicam­ente ativa crescer mais depressa do que a população ocupada, elevando a taxa de desemprego. Mas, a persistire­m os sinais observados agora, será um efeito temporário.

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