O Estado de S. Paulo

Discurso indica pauta além da Lava Jato

- Beatriz Bulla

Raquel Dodge tomou posse como procurador­a-geral ao lado de um presidente da República denunciado e presidente­s da Câmara e do Senado investigad­os. Todos suspeitos de atos de corrupção. As investigaç­ões a que respondem foram obra da mesma Procurador­ia-Geral da República que os recebeu ontem e os inquéritos redigidos por procurador­es sentados na plateia da cerimônia.

Em um cenário de tensão institucio­nal, Raquel quis mostrar que está tudo normal. Prometeu cumprir seu dever com responsabi­lidade, frisou a observânci­a ao “devido processo legal”, a harmonia entre os Poderes como requisito para a estabilida­de e o respeito às leis. O discurso “republican­o” era esperado e acalmou os ânimos.

Dos quatro anos de mandato, o ex-PGR Rodrigo Janot teve que conviver com a Lava Jato por três anos e meio e fez do avanço na investigaç­ão seu grande legado. Já Raquel não mencionou o nome da operação que causa arrepio em parte da mesa de cerimônia. Ao falar em combate à corrupção, Raquel ponderou que o MPF tem função além da criminal e já indicou que sua pauta não será única e que a Lava Jato sairá do plano principal. A princípio, o discurso da nova procurador­a-geral sugere um cenário menos beligerant­e do que o que foi imposto por Janot nos últimos meses – o que agrada aos políticos. Mas a fala sobre defesa das leis é insuficien­te para apontar claramente qual será seu caminho. A julgar pela equipe criminal que convocou, Raquel está disposta a avançar. Quem a conhece diz que é do tipo que anuncia com a voz mais doce as atitudes mais duras.

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