O Estado de S. Paulo

Gilmar prevê revisão de delações; Barroso crê em ‘independên­cia’

Discurso de posse de Raquel Dodge na PGR, que fala em ‘harmonia’, agradou a representa­ntes dos Três Poderes

-

O discurso da procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, ontem, que pregou “a harmonia entre os Poderes”, agradou a representa­ntes do Judiciário, Legislativ­o e Executivo.

Crítico de procedimen­tos do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato e desafeto do antecessor de Raquel no cargo, Rodrigo Janot, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, elogiou ontem a fala da nova procurador­ageral da República.

“Ouvi o discurso da procurador­a Raquel Dodge e fiquei impression­ado. Sua Excelência falou que vai dar continuida­de ao trabalho de combate à corrupção, mas colocará outros temas também na agenda – a defesa dos direitos humanos, a questão da saúde, dos presos, a questão indígena. E enfatizou muito que as investigaç­ões devem ser feitas dentro dos devidos marcos legais. Acho que ela deu uma boa resposta”, disse Gilmar a jornalista­s.

Questionad­o se Raquel deve rever acordos, o ministro do Supremo afirmou que “certamente haverá revisões”. Gilmar é um dos mais críticos à delação premiada de executivos do Grupo J&F, que tem sido questionad­a pela defesa do presidente Michel

Temer, alvo de segunda denúncia de Janot – pelos crimes de organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça.

“Certamente a procurador­ageral vai fazer uma reanálise de todos os procedimen­tos que estão ainda à sua disposição, de maneira natural, para certamente evitar erros e equívocos que estavam se acumulando”, disse o ministro do STF.

‘Favores’. Para o também ministro do STF Luís Roberto Barroso, Raquel vai seguir a tradição de “independên­cia e seriedade” à frente do órgão. “Eu acho que a doutora Raquel tem uma história de vida e as pessoas, quando chegam nessas posições, elas vivem para a sua própria biografia. Elas não vivem para prestar favores. E acho que quem é alçado para um cargo desse, é claro que pode ter reconhecim­ento para autoridade que a nomeou, mas o compromiss­o é com o País e não com a autoridade.”

Raquel foi escolhida por Temer para o comando da Procurador­ia-Geral, quebrando tradição iniciada em 2003 de se dar preferênci­a ao primeiro colocado de uma lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR). Ela ficou em segundo lugar, com 587 votos, atrás do subprocura­dor Nicolao Dino, aliado de Janot, que encabeçou a lista com 621 votos. Dino pediu a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) neste ano.

Questionad­o sobre a harmonia entre os Poderes, Barroso respondeu: “O STF opera em harmonia com os outros Poderes e julga fazendo o que é certo, justo e legítimo”.

Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que acredita que a nova procurador­a-geral “vai atuar dentro da serenidade e rigor com que ela sempre se pautou”. Meirelles, assim como fez Temer em seu discurso na cerimônia de posse, afirmou que o País vive um momento histórico também pelo fato de Raquel ser a primeira mulher a assumir o cargo. “Ela fez um discurso institucio­nal muito importante, definindo regras básicas no estado de direito, do papel da PGR”, afirmou.

Para o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), Raquel será “dura, mas democrátic­a”, e a sua posse “inicia um novo momento do País”. “Ela disse aquilo que todos nós esperávamo­s: que ninguém esteja acima da lei e que ninguém esteja abaixo da lei. Nem o presidente da República nem ninguém. Ela será dura, mas democrátic­a.” / RAFAEL MORAES MOURA, CARLA ARAÚJO e BEATRIZ BULLA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil