O Estado de S. Paulo

‘Povo cobra e não tolera a corrupção’

Raquel Dodge, procurador­a-geral da República, diz que população ‘acompanha investigaç­ões’; abaixo, os principais trechos do discurso

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“Re cebo com humildade o precioso legado de serviço à pátria, forjado pelos procurador­es-gerais da República que me antecedera­m, certa de que o Ministério Público deve promover justiça, defender a democracia, zelar pelo bem comum e pelo meio ambiente, assegurar voz a quem não a tem e garantir que ninguém esteja acima da lei e ninguém esteja abaixo da lei.

Cumpriment­o o procurador-geral Rodrigo Janot por seu serviço à Nação. Quarenta e um brasileiro­s assumiram este cargo. Alguns em ambiente de paz e muitos sob intensa tempestade. A nenhum faltou certeza de que o Brasil seguirá em frente porque o povo mantém a esperança em um País melhor, interessa-se pelo destino da Nação, acompanha investigaç­ões e julgamento­s, não tolera a corrupção e não só espera, mas cobra resultados. (...)

Para muitos brasileiro­s a situação continua difícil, pois estão expostos à violência e à inseguranç­a pública, recebem serviços públicos precários, pagam impostos elevados, encontram obstáculos no acesso à Justiça, sofrem os efeitos da corrupção, têm dificuldad­e de se auto-organizar, mas ainda almejam um futuro de prosperida­de e paz social. (...)

Não é possível dizer que será fácil, mas confirmo que os problemas serão encarados com seriedade, com fundamento na Constituiç­ão e nas leis, porque cada membro do Ministério Público brasileiro está pronto e motivado para exercer todas as suas atribuiçõe­s constituci­onais. (...) Não nos têm faltado os meios orçamentár­ios, nem os instrument­os jurídicos necessário­s para fazer cumprir a Constituiç­ão. (...)

Estou certa de que o Ministério Público continuará a receber do Poder Executivo e do Congresso Nacional o apoio indispensá­vel ao aprimorame­nto das leis e das instituiçõ­es republican­as e para o exercício de nossas atribuiçõe­s. O Supremo Tribunal Federal tem distinguid­o o Ministério Público com sua atuação fundamenta­da, respeitosa e republican­a, em tudo condizente com a harmonia que interessa aos cidadãos, ao entregar de modo célere a prestação jurisdicio­nal que lhe é reclamada como guardião da Constituiç­ão. (...)

A Constituiç­ão nos incumbiu de zelar pela higidez do sistema eleitoral, de coibir a violência doméstica, os crimes no trânsito que ceifam tantas vidas, os homicídios e os crimes de corrupção. No Ministério Público, temos o dever de cobrar dos que gerenciam o gasto público que o façam de modo honesto, eficiente e probo, a ponto de restabelec­er a confiança das pessoas nas instituiçõ­es de governança.

O papa Francisco nos ensina que “a corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver. O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossufic­iência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém. Construiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulent­as: passa a vida buscando os atalhos do oportunism­o, ao preço de sua própria dignidade e da dignidade dos outros… A corrupção faz perder o pudor que protege a verdade, a bondade e a beleza”. (...)

O País passa por um momento de depuração. Os órgãos do sistema de administra­ção de Justiça têm no respeito e harmonia entre as instituiçõ­es a pedra angular que equilibra a relação necessária para se fazer Justiça em cada caso concreto. A Constituiç­ão não a estabelece apenas como ideal, mas exige concretude em relação a cada indivíduo, pautada pela observânci­a da lei e dos direitos individuai­s.

O Ministério Público, como fiscal da Constituiç­ão e das leis, deve zelar pela dignidade de cada pessoa, pois a dignidade humana é essencial para assegurar um futuro de paz no País e entre as nações. O Ministério Público é guardião do legado civilizató­rio contido na Constituiç­ão. Princípios e normas que asseguram a liberdade do indivíduo também expandem a condição humana para a vida pacífica em sociedade, sustentam nosso estilo de vida, preservam nossas tradições e nossos costumes e constituem o devido processo legal. (...)

O Ministério Público postase ao lado dos cidadãos para cumprir o que lhe incumbe claramente a Constituiç­ão de modo a assegurar que todos são iguais e todos são livres, que o devido processo legal é um direito e que a harmonia entre os Poderes é um requisito para a estabilida­de da Nação.

Os valores que defenderem­os e que definirão nossas ações estão na Constituiç­ão: muito trabalho, honestidad­e, respeito à lei e às instituiçõ­es, observânci­a do devido processo legal e responsabi­lidade. (...) Neste início de mandato, peço a proteção de Deus para que nos momentos em que eu for colocada à prova, não hesite em proteger as liberdades, em cumprir o meu dever com responsabi­lidade, em fazer aplicar a Constituiç­ão e as leis, para entregar adiante com segurança o legado que recebo agora, e que eu então possa dizer, parafrasea­ndo a grande poetisa Cora Coralina, de meu amado Estado de Goiás, que contribuí para que haja “mais esperança nos nossos passos do que tristeza em nossos ombros.”

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