O Estado de S. Paulo

Advogado foragido ‘lavou’ dinheiro na Galícia, diz Espanha

Rodrigo Tacla Duran é suspeito de montar empresas de fachadas para pagar políticos no Brasil

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / ANDORRA

Investigaç­ões conduzidas pelas autoridade­s de Andorra e da Espanha apontam que o advogado Rodrigo Tacla Duran usou povoados na região da Galícia como sede de empresas de fachada que fizeram transações milionária­s e pagamentos a políticos. Os dados fazem parte de processos obtidos pelo Estado que estão em andamento na Justiça de Andorra. Os documentos também confirmam que os bancos do principado já sabiam da relação entre as empresas de fachada e a Odebrecht desde 2011.

Considerad­o foragido pelas autoridade­s brasileira­s, ele acabou sendo detido em hotel de luxo de Madri. Mas, para evitar uma extradição, Tacla Duran teria se oferecido para cooperar com as investigaç­ões e, na esperança de obter informaçõe­s sobre empresas espanholas, o Ministério Público local iniciou um processo de aproximaçã­o.

Na semana passada, o Estado mostrou que ele movimentou, por meio de suas empresas, mais de R$ 100 milhões, entre 2010 e 2014. Boa parte desse montante foi repassada por empresas investigad­as na Operação Lava Jato, conforme relatório do Ministério Público Federal. Os valores não contabiliz­am os repasses da Odebrecht, para quem, segundo a própria empreiteir­a, Tacla Duran atuava como operador financeiro no exterior.

Por enquanto, os dados repassados pelo Brasil às autoridade­s espanholas indicam que ele estaria envolvido em onze empresas de fachada. Elas teriam sido criadas para realizar pagamentos de propinas. O dinheiro ainda passava por contas em Cingapura, Suíça e no Panamá.

Mas uma das principais suspeitas aponta para propinas pagas usando contas secretas em Andorra e empresas em pequenas cidades do norte da Espanha. Uma das empresas de fechada administra­das por Tacla Duran era a Vivosant Corporatio­n, pela qual se suspeita que tenham passado mais de 17 milhões de euros (R$ 63,4 milhões). Ela recebeu em uma conta secreta em Cingapura em 2010 pelo menos 12 milhões de euros (R$ 44, 7 milhões) da Constructo­ra Internacio­nal del Sur, apontada na Lava Jato como peça importante no esquema de distribuiç­ão de propinas na América Latina.

Teria sido por meio da Constructo­ra que o ex-executivo da Odebrecht Fernando Migliaccio, detido em Genebra em fevereiro, teria também pago propinas e movimentad­o mais de US$ 40 milhões (R$ 125 milhões). No registro comercial espanhol, a empresa Vivosant se apresenta como uma “consultori­a e projetos de reciclagem industrial”. Sua sede está na rua Manuel Quiroga, na pequena cidade de Pontevedra, na Galícia.

Outra empresa de fachada que também é suspeita de ter sido utilizada como mecanismo de pagamento de propinas foi a Gvtel Corporatio­n, supostamen­te do setor de telecomuni­cações. Sob a gestão de Tacla Duran, a empresa registrou transações de quase US$ 30 milhões (R$ 93,7 milhões).

Praia. O que chamou a atenção dos investigad­ores é que a empresa teria seu endereço na praia de Poio, também na Galícia e com apenas 16 mil habitantes. Os investigad­ores de Andorra indicam que Tacla Duran queria “abrir em Andorra o serviço de faturação para o Brasil, que o daria uma empresa do grupo Odebrecht, por meio de um contrato de assessoria financeira”.

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